No passado dia 21 de março comemorou-se o Dia Mundial da Árvore para assinalar a sua importância nas nossas vidas e no planeta. Embora a relevância das árvores enquanto sumidouros de dióxido de carbono, entre outros serviços ecossistémicos que presta, tenha tudo um grande crescimento mediático nas últimas décadas, a consciência sobre a sua importância é secular, uma vez que a celebração do “Dia da Árvore” remonta a finais do século XIX. No entanto, de uma forma menos espectacular, mas com um sentimento que seguramente não é inferior ao atual, os povos mais antigos tinham perfeita consciência da importância das árvores para a sua sobrevivência. Destaco um conhecido provérbio indígena que refere que “somente quando for cortada a última árvore, pescado o último peixe, poluído o último rio, as pessoas perceberão que não podem comer dinheiro”.
No Dia Mundial da Árvore são várias as iniciativas que assinalam este dia. Uma das actividades mais comuns é a da plantação de uma árvore – em março de 2021, neste mesmo espaço, escrevi um artigo que alertava para a responsabilidade de quem planta uma árvore, que não se esgota no ato de a plantar. A selecção da espécie arbórea e a escolha do local onde a árvore será plantada é fundamental para evitar que, após atingir a idade adulta, a árvore, que com tão boas intenções foi plantada, tenha de ser cortada por se tornar um transtorno físico ou um fator de risco. Uma das razões que pode levar a esta situação indesejada é a de uma árvore plantada perto de um edifício, após crescimento, poder contribuir para a exposição da construção a incêndios florestais.
Entre outras imposições, a legislação nacional obriga a que a separação mínima entre a copa das árvores e as construções seja de 5 m. O afastamento entre as árvores e os edifícios faz sentido porque a eventual ignificação, total ou parcial, das árvores poderia conduzir o fogo ao edifício, tanto por propagação direta das chamas, como através da projecção de partículas incandescentes tal como folhas. Por outro lado, a proximidade das árvores às casas conduz frequentemente a problemas relacionados com a limpeza dos tralhados, que são a componente construtiva por onde normalmente a primeira ignição se verifica.
No âmbito do projeto nacional com financiamento pela Fundação para a Ciência e Tecnologia – o Projeto House Refuge (www.adai.pt/houserefuge) – a ADAI tem vindo a realizar diversos ensaios laboratoriais que pretendem perceber quais as espécies arbóreas típicas dos jardins portugueses que apresentam maior inflamabilidade e maior tendência para libertar fagulhas, expondo uma casa na proximidade a uma maior probabilidade de ignição em caso de incêndio rural.
De entre 15 espécies analisadas, a figueira foi aquela que apresentou maior dificuldade em arder e de libertar fagulhas.
À figueira, seguiram-se, e por ordem: abrunheiro, medronheiro, macieira, tileira, cerejeira, nespereira, azevinho, oliveira e loureiro. A existência de árvores com menor inflamabilidade na proximidade das construções protege a construção relativamente aos incêndios rurais, funcionando como um obstáculo à transferência de calor e à chuva de fagulhas provenientes de uma eventual frente de chamas nas imediações. Assim, desde que colocada à distância regulamentar, i.e., 5 m da construção, a existência de árvores de baixa inflamabilidade junto às habitações acaba por ter um efeito positivo na proteção dos edifícios contra incêndios rurais, para além dos outros benefícios, como o ensombramento ou a produção de frutos. Com um efeito contrário, árvores como o loureiro deveriam encontrar-se a uma distância da casa muito superior àquela exigida pela legislação nacional – os nossos estudos indicam que a separação entre o edifício e um loureiro adulto não deveria ser inferior a 43 m. Refira-se ainda que, quanto maior for o stress hídrico da árvore, maior é a sua inflamabilidade, pelo que a rega da vegetação na envolvente dos edifícios assume grande importância, sobretudo na época mais crítica de incêndios.
Assim, quando plantar uma árvore nas imediações de uma casa, invista algum tempo na fase de planeamento, selecionando a espécie mais favorável e escolhendo a melhor localização, tendo em consideração a sua dimensão quando adulta. No século XVI, o Monge Agostiniano Martinho Lutero, disse: “Se soubesse que o mundo acabava amanhã, hoje plantaria uma árvore”. Eu acrescentaria “…plantaria uma árvore, depois de escolher a espécie certa e o local adequado”.