Figueira da Foz e a economia local desde a sua génese….

 

Começamos por ter documentação escrita sobre as salinas na Figueira da Foz, através da doação testamentária de Sisnando Davides, Governador de Coimbra, ao Abade Pedro em 1096. Aqui constava a doação de terras e marinhas de sal (salinas).[1] Mais tarde, por Carta Régia[2], D. Afonso Henriques faz a doação de mais terras e Salinas nas margens do Rio Mondego, aos Monges de Mosteiro de  Santa Cruz de Coimbra em 1176[3]. Maria Helena da Cruz Coelho[4] (refere a existência de 28 documentos datados do século XIII referentes a salinas no Mondego, 11 são referentes a Lavos, 9 a Tavarede, 4 a Caceira, 3 na foz do Mondego e 1 a Oveiroa (actual Ilha da Morraceira). O sal era o ouro branco da região e altamente valorizado pelas propriedades da conservação dos alimentos, entre muitos outros aspectos.

(1) Doação testamentária , Capitão João Pereira Mano  “Lavos: Nove Séculos de História” (2000)

(2) Chancelarias Medievais Portuguesas,  Coimbra 1938, Abiah Elisabeth Reuter

(3) Mário Vieira de Sá, em “ O Sal Comum”, edição de 1947

(4) Maria Helena da Cruz Coelho, “O Baixo Mondego nos Finais da Idade Média”

 

O Mosteiro de Santa Maria de Seiça que pertencia à Ordem de Cister, nasce de uma pequena comunidade de eremitas ou monges já existente em 1175, ano em que D. Afonso Henriques lhe outorgou carta de couto. 

Casas Figueira da Foz

Este rei foi o fundador de Seiça, enquanto doador do domínio inicial do mosteiro, mas foi D. Sancho I que mandou construir a abadia e introduziu os monges do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça na comunidade, a partir de 1 de Março de 1195, data da doação do Mosteiro ao abade de Alcobaça, D. Mendo, casa mãe. As vinhas eram da maior importância para os monges, arrendando as terras que eram trabalhadas por arrendatários e que pagavam muitos deles a renda em pipas de vinho. Até ao século XX muitas vinhas se mantiveram, no entanto no caso das da margem sul da Figueira da Foz forma sendo paulatinamente arrancados os pés de vinha e substituídas por arroz, como foi o caso na Quinta do Canal de Fora.
A pesca era também uma actividade de relevo na região, nomeadamente em Buarcos e Redondos, povoação de pescadores. Esta actividade secular foi importantíssima para a própria construção de embarcações, com importante destaque durante o século XVII. A dada altura a pesca do bacalhau era também uma referência, e no século XX durante o Estado Novo, é intensificada e subsidiada tendo a partir de finais da década de 50 o aliciante de, a quem se inscrevesse nesta faina maior pelo prazo de 7 anos, beneficiaria da isenção do serviço militar na guerra colonial. Também a seca do bacalhau na Ilha da Morraceira era uma actividade desenvolvida pelas mulheres, que alternavam este trabalho com o carrego do sal das salinas para os bateis que o vinham descarregar na Figueira da Foz. O bacalhau era acondicionado e posteriormente vendido.
O comércio marítimo e fluvial era fulcral e as primeiras notícias de uma alfândega na foz do Mondego datam de meados do século XVI, registando-se a existência de um almoxarife em 1559. Percebe-se a importância e dinâmica do cais.  O Conselho da Fazenda ordenou a sua reedificação, em 1692. O estaleiro da obra arrancaria somente em 1707, terminando-se no ano de 1711[5]. É este edifício que se manteve até hoje, onde se desenrolou uma actuação estratégica e fulcral da Figueira da Foz, reflectindo a importância portuária, promovendo uma crescente dinâmica comercial.

(5) BORGES, José Pedro de Aboim, “ Materiais para a História da Figueira nos Séculos XVII e XVIII”, Catarina Oliveira
DGPC, 2019

 

Este edifício tornar-se-ia famoso pela aquisição à Alfândega de uma enorme coleção de Azulejos de Delft (provenientes de Roterdão, Países Baixos, tendo sido apreendidos pela alfândega após um acidente com a embarcação de transporte dos mesmos em 1706). Os azulejos tornam-se propriedade do Cónego de Coimbra, D. José de Melo, sobrinho do Bispo Conde D. João de Melo, fundador da Casa do Paço da Figueira da Foz onde constam os ditos azulejos.

Moradias Figueira da Foz

A partir do século XVIII começam a ser exploradas as minas do carvão da Serra da Boa Viagem (Cabo Mondego).

Com a inauguração da Linha de Caminho de Ferro da Beira Alta em 3 de Agosto de 1882, em que esteve presente o rei de Portugal D. Luís, começa a intensificar-se a vinda de banhistas, quer portugueses quer espanhóis, uma vez que a Figueira da Foz era agora a praia mais próxima de Madrid. A construção do Bairro Novo, em contraposição ao Bairro Velho (hoje a baixa da Figueira da Foz) começa pela segunda metade do século XIX, com a hotelaria a tomar a sua cada vez maior expressão. O Casino Peninsular é inaugurado em do actual Casino ergueu-se, em 1884, o “Theatro-Circo Saraiva de Carvalho” é transformado em espaço de jogo e lazer, com o nome de “Casino Peninsular” – um dos mais importantes pólos de desenvolvimento e atracção do Bairro Novo.  Sendo o Casino actual, de fachada totalmente inovada, continua a ser um dos pólos de animação e atracção turística por excelência.[6]

(6) In Figueira da Foz: Rotas do Concelho – Isabel Henriques. Organ. Divisão de Cultura, Museu, Biblioteca e Arquivos da Câmara Municipal da Figueira da Foz, ed. Figueira Grande Turismo, 2005, pp 15-31.

 Figueira da Foz

Em 3 de Agosto de 1898, situado junto do Casino (Peninsular), surge mais um luxuoso edifício, construído para funcionar como casino e café-concerto, emerge para dotar o centro de veraneio do Bairro Novo de mais um equipamento de lazer e de atracção turística, bem ao gosto da sociedade da “belle époque”.

Entramos assim no século XX, com a cidade plena de desenvolvimento e virada para um turismo que cada vez mais se afirmará, atingindo o seu expoente máximo na década de 50.

Outras actividades comerciais de desenvolverão, como a vidreira do Mondego, a produção do arroz ou a introdução de papeleiras face à abertura do Estado Novo ao investimento estrangeiro.

Contudo, a partir dos anos ’70 começaria o boom da construção civil e respectiva actividade imobiliária, garantindo apartamentos e moradias tanto para habitação permanente como de 2ª habitação e férias para grande parte da população do centro do país, que tradicionalmente procurava a Figueira da Foz como destino turístico, marcando assim o início de uma nova era de desenvolvimento atraindo cada vez mais outro tipo de industrias e residentes.

Técnica de Turismo e Patrimonio


Jacqueline Batista Couto
(Técnica de Turismo e Património)

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