Tudo, todos, em todo o lado e ao mesmo tempo: porque aquilo que se fizer nesta década, irá condicionar o nosso futuro para sempre

Tenho dedicado este espaço de opinião à compreensão das relações de força em torno dos desafios socio-ecológicos com que as sociedades contemporâneas se confrontam e ao apelo à imperiosa necessidade de agir para transformar os modos de organização social responsáveis por nos trazer até a este momento histórico em que, estruturas e sujeitos, somos responsabilizados e chamados a desempenhar um papel ativo.

Tendo sido alertados pelos cientistas do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), no seu último relatório, para a necessidade de implementar transformações que nos desviem da rota da destruição em massa que se expressa cada dia mais intensamente em todas as geografias, não podemos continuar sem exigir aos Estados, às empresas, às organizações e às pessoas em geral, a responsabilidade pelo agir proactivamente a favor do planeta e das pessoas. O aquecimento global não para de crescer, nunca tivemos tantas estratégias identificadas como agora para agir nas suas causas e consequências, bem como na degradação ambiental, na perda de biodiversidade, extinções em massa – consequências há muito previsíveis. O agravamento da situação tem vindo a ganhar um ritmo muito mais intenso do que o previsto. O tempo escasseia e o IPCC alerta para a consciencialização de que as escolhas e as ações que venhamos a tomar colectivamente e individualmente durante esta década, terão os seus impactos nos próximos milhares de anos – é nesta dimensão que reside a imprevisibilidade, a da ação humana.

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Escalas de responsabilidade à parte, efetivamente todas/os nós, coletivamente e individualmente, necessitamos de nos convencer – e de reconhecer – de uma vez por todas que é urgente fazer de tudo (estratégias de adaptação e mitigação) em toda a parte (nenhuma pessoa ou geografia pode ser deixada para trás) e ao mesmo tempo (não podemos deixar nem mais um dia passar). Tudo, todos, em todo o lado, ao mesmo tempo, resume o desafio que temos pela frente. Num tempo que é hoje. Não é amanhã. Amanhã será irreversível e o IPCC e os cientistas já o dizem há mais de 30 anos!! Quanto menos fizermos hoje para o desacelerar e inverter as tendências de aumento das emissões, mais ações e mais drásticas teremos de fazer amanhã. Quanto mais desaceleramos o nosso ímpeto consumista destruidor da natureza e seus ecossistemas dos quais todas/os dependemos, que exige a apropriação contínua dos seus elementos (que têm de deixar de ser vistos como meros recursos), e menos a usarmos para depositar os nossos excessos e resíduos destruidores, mais tempo ganhamos.

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Esta era do ser humano (Antropoceno) e do Capital (Capitaloceno), que destroem a nossa casa comum, tem de dar lugar a uma visão altruísta, assente no colectivo como seu foco de vida, na cooperação e no cuidado como sua estratégia de relação sociedades-naturezas, que promova a sua proteção e garanta a vida às gerações futuras – (re)imaginar futuros possíveis. Um paradigma da dádiva, da cooperação, da solidariedade, assente no colectivo e integrando toda a diversidade, poderá ser a saída.

Fazer de tudo é o desafio, o que exige que em todas as geografias se possam desencadear simultaneamente estratégias de adaptação e mitigação. Temos os meios e instrumentos para agir, porque não o fazemos? Este é o momento certo, a derradeira hora – sem mais atrasos nem justificações – para desenvolver uma ação climática efetiva, justa, inclusiva, que assegure um futuro sustentável e saudável passível de ser vivido por todas/os.

Fátima Alves, Professora Universitária e Socióloga, in Diário As Beiras (01/04/2023)

 

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