Gostamos de coisas esteticamente agradáveis e limpas. Pode variar o conceito estético, varia muito de indivíduo para indivíduo. Também pode variar o que consideramos limpo ou não. Não é fácil agradar a todos, na verdade. Muito especialmente quando se trata de gerir e planear o espaço público.
Não sendo especialista em estética (quando gosto, gosto, mas não sei porquê, é como o vinho, gosto de uns mais do que de outros, mas não sei o suficiente para explicar…) tenho que me munir de outras ferramentas, tentando lá chegar por aproximação, usando outros conceitos como indicadores.
Aqui entra a diversidade em contraponto como a monotonia. A diversidade é um razoável indicador de estética (na minha opinião, atenção) em contraponto à monotonia.
Certo que a monotonia, a repetição de uma paisagem podem ser atractivos, sem dúvida. E já estou em discussão comigo próprio, o que só reflecte o escorregadio que são as tomadas de posição absolutas sobre a estética.
Nesta altura o meu par de leitores está a perguntar-se onde é que eu quero chegar com este arrazoado… Vem a propósito do anúncio pelo executivo da Câmara Municipal da Figueira da Foz de que se irá “remover a camada vegetal que, desde há anos, cobre o lindíssimo areal da Praia da Figueira da Foz”.
Não há dúvida que a praia e o areal da Figueira da Foz são lindíssimos, mesmo considerando que não sou imparcial nesta avaliação, concordo. Mas um dos factores que, para mim, justifica essa beleza marcante, para além da dimensão, é, efectivamente, a vegetação que há alguns anos se deixou fixar e inclusivamente se promoveu com plantações.
Ao invés de termos apenas um areal monótono, temos uma vegetação dunar embrionária, com espécies típicas, que asseguram alguma diversidade de paisagem sem, contudo, lhe esconderem o carácter de praia. Não só de paisagem visual mas também sonora, pois atrai algumas espécies de pássaros e insectos. E até olfactiva. Nota-se o “cheiro a duna”.
O areal é extenso e tem aumentado. A deslocação até à frente do mar é longa. No entanto, nestes últimos anos, tem custado menos pois é menos monótona. Tem vida, tem cores, tem sons, tem aromas.
Sei que, muitas vezes, há pressão das pessoas que olham para um espaço “cheio de ervas” e acham que está sujo. E pressionam para que seja “limpo”. Mas, se se explicasse o que estão a ver, que não é “lixo”, mas plantas adaptadas a areais, que fornecem habitat a espécies animais, que fomentam as espécies polinizadoras (em derrocada global assustadora), talvez começasse a generalizar-se a sua apreciação e a compreensão da sua relevância.
Na verdade, não faltará areal de areia pura na Rainha das Praias de Portugal, há espaço para todos.