É complexo analisar a utilização de inteligência artificial (IA) nas empresas portuguesas, sobretudo, por falta de dados. No entanto, através do quadro seguinte, baseado em elementos da consultora Mckinsey (2020), sabe-se que, em Portugal, este tema tem pouca expressão.
A consultora analisou o nível de preparação de diferentes países sobre a utilização da inteligência artificial utilizando 7 indicadores: quantidade e qualidade do talento disponível, nível de investimento em IA, quantidade e qualidade dos dados disponíveis e da infraestrutura tecnológica existente, nível de investigação em IA, adoção tecnológica do setor privado e seu potencial atual e futuro e nível de enquadramento legislativo, classificando os países em 4 grupos.
Portugal situa-se no último grupo, o que quer dizer que tem pela frente um trabalho enorme para aplicar a IA ao setor público e privado. De forma convergente, a Universidade de Stanford publicou, em 2020, uma ferramenta interativa denominada Global IA Vibrancy Tool, que analisa, em múltiplos países, o nível de aplicação de IA.
Em termos de aplicabilidade de IA, em 26 países, nos setores de investigação e desenvolvimento, economia e inclusão, a nossa vizinha Espanha aparece em 23º lugar, a Rússia aparece em último e no 11º lugar aparece a Finlândia, logo seguido pela Alemanha, Portugal e Grécia não aparecem, quiçá, por falta de dados ou por não serem disponibilizados valores em IA minimamente significantes.
Observando o gráfico seguinte, com base em oito critérios embutidos na figura, verifica-se que Portugal, para os critérios de IA, se encontra no limite inferior. Só a nível de inovação é que Portugal está acima da média, conforme a figura 3. Contudo, esta inovação é mais incrementalista do que propriamente disruptiva.
No estudo efetuado em 2020 pela ACEPI – Associação da Economia Digital, constata-se que a inteligência artificial, aplicada nas empresas portuguesas, é insignificante, existindo somente 9% de empresas que a utilizam e 14% que têm intenção de a utilizar. Veja-se a próxima figura:
Conclui-se, em consequência, que os sistemas de gestão baseados em técnicas de inteligência artificial são praticamente inexistentes na maioria das empresas portuguesas. A expressão inteligência artificial está associada ao desenvolvimento de agrupamentos especializados – wizard systems. Estes sistemas são baseados em conhecimento, são construídos principalmente com regras que reproduzem o conhecimento de um perito e são utilizadas para solucionar determinados problemas em domínios específicos. De facto, a concessão de crédito para a habitação, na maioria dos bancos, já é feita através de algoritmos, duas lojas da Sonae Lab existentes em Lisboa – Arco do Cego – já utilizam inteligência artificial, a Fundação Champalimaud emprega também idênticas ferramentas, bem como algumas tecnológicas (Feedzai, por exemplo). No entanto, a esmagadora maioria das empresas portuguesas ainda não operam com IA ou não a incluem nos planos para o futuro, situação que afeta o investimento e a sua competividade.
1 Em homenagem a António Madeira Teixeira, fundador do Grupo Fapricela, Ançã – Coimbra