Patologias em Edifícios

Um edifício, tal como um ser vivo, nasce, tem doenças e morre.

O nascimento do edifício consiste na sua concepção, no seu desenho, no seu dimensionamento e na sua construção.

Durante a sua vida útil vai ter uma utilização. A sua morte corresponde à sua demolição ou ao seu colapso.

Um edifício é, em tudo, análogo ao corpo humano: A Estrutura corresponde ao Esqueleto, as Paredes são a sua Carme, o Revestimento das Paredes são a sua pele, a Rede de Abastecimento de Águas corresponde ao Aparelho Circulatório, a Rede Eléctrica ao sistema nervoso, os Esgotos Líquidos ao Aparelho Urinário e os Esgotos Sólidos ao aparelho digestivo. As Telecomunicações correspondem à Visão e Audição.

As Patologias dos Edifícios podem ter várias origens:

CAUSAS POR ACÇÃO HUMANA – Erros de Concepção e Projecto, de Execução e de Utilização. Muito mais graves serão se houver ignorância e inconsciência primária, com ausência de Projecto e erros graves de execução.

CAUSA POR ACÇÃO NATURAL SOBRE OS PRÓPRIOS MATERIAIS – Acções Físicas. Acções Químicas e Acções Biológicas.

CAUSAS POR DESASTRES NATURAIS – Sismos, Ciclones, Tornados, Cheias, Tsunamis, Avalanches, Deslizamento de Terras, Erupções Vulcânicas, Trovoadas e Tempestades Marítimas.

CAUSAS POR DESASTRES HUMANOS – Fogos, Explosões, Choques e Inundações.

Quanto às acções Físicas, Químicas e Biológicas sobre os materiais, costuma designar-se por DURABILIDADE de um edifício a sua aptidão para, durante o período de vida previsto, desempenhar as funções para que foi concebido sem que, para tal, haja necessidade de custos imprevistos de manutenção e de reparação.

Nas patologias de origem Física e Química podemos considerar:

Apartamentos Figueira da Foz

HUMIDADES EM PAREDES DE ALVENARIA E TECTOS destacando O SALITRE, MANCHAS, DESCASQUE DE REVESTIMENTO E TINTAS, CONDENSAÇÕES E BOLORES. DESTRUIÇÃO DOS MATERIAIS POROSOS POR CONGELAÇÃO E DESCONGELAÇÃO.

A FENDILHAÇÃO EM PAREDES DE ALVENARIA pode ocorrer por Deformações e movimentos da Estrutura, por Retracção das argamassas de revestimento ou por Instabilidade Elástica das paredes.

Assim, considerando as preocupações do Eurocódigo estrutural nº 6 dedicado às alvenarias, será prudente não construir paredes de alvenaria com altura superior a 18 vezes a sua espessura total, incluindo revestimentos, nem comprimento superior a 27 vezes essa espessura. Devem considerar-se sempre os travamentos com vigas, com pilares ou com outras paredes transversais.

As humidades nas paredes e tectos acontecem por higroscopicidade quando não há porosidade suficiente que permita às superfícies absorver ou expelir o vapor de água da atmosfera.

Isso acontece, por exemplo, nos tectos das casas de banho onde surgem consequentemente manchas negras. São manchas de sulfato de cálcio que, se estiver anidro na forma do gesso do estuque, é branco mas quando hidratado fica negro. Fenómeno análogo acontece nas fachadas dos edifícios com a poluição atmosférica sobre os materiais de origem calcária (carbonato de cálcio). Com as chuvas ácidas (anidrido sulfuroso + água + água dão ácido sulfúrico!) dá-se a transformação do calcário em sulfato de cálcio que, quando hidratado, fica negro.

Veja-se o enegrecimento dos monumentos e estátuas de pedra calcária.

O salitre não tem cura mas pode e deve evitar-se, durante a construção, impedindo com telas asfálticas ou qualquer outro processo que as paredes porosas fiquem em contacto directo com os solos. É um caso da absorção de água por parte de fundações de paredes em contacto directo com os solos saturados de água pelas águas pluviais por exemplo. Essas águas, que transportam diversos sais dissolvidos, sobem por capilaridade pelas paredes e quando evaporam, já nos interiores dos edifícios, dá-se a evaporação da água e ficam os sais residuais a ocupar o espaço superficial. Havendo tintas ou outros revestimentos estes saltam todos formando o salitre, ou no mínimo, manchas de humidade. Depois de formado não há nenhum processo para eliminar o salitre. O que se pode é esconder o fenómeno com um revestimento adicional de painéis de madeira ou de gesso cartonado do tipo “pladur”. Se se limpar o salitre e revestir a superfície, passado pouco tempo o problema reaparece do mesmo modo. Se se impermeabilizar a parede impedindo totalmente a evaporação (com painel de azulejos, por exemplo), o fenómeno vai acontecer em outro local da parede mesmo que seja num andar acima. Os rodapés ou outras peças de madeira porosa em contacto com a parede ficam também cheios de sais de salitre.

Das patologias de origem biológica em edifícios, é de realçar a acção de animais xilófagos, como o caruncho e a térmitas, que destroem as peças de madeiras resinosas não tratadas. O caruncho actua em ambiente seco no interior das peças de madeira resinosa não tratada como o pinho ou mesmo o cedro. As térmitas actuam em ambiente húmido em peças de madeira não tratada em contacto com o solo.

Celestino Flórido Quaresma – Professor Universitário Aposentado de Engenharia Civil, in Diário de Coimbra (17/09/2022)

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