A Harvard Business Review faculta aos profissionais de todo o mundo pesquisas inteligentes e ideias importantes sobre gestão, que impactam positivamente nas organizações empresariais, tornando-as mais eficientes.
A prestigiada revista, no que tange à competitividade digital dos países, divide o mundo em quadro zonas de desenvolvimento tecnológico a saber: países stall out, break out, stand out e watch out.
Os países que se encontram na fase stall out, já abraçaram o potencial das tecnologias digitais, estão na vanguarda da digitalização, concebem a digitalização mais como uma oportunidade do que como uma ameaça, desenvolvem-na como um ecossistema, e por isso, são considerados os protagonistas na busca de inovação nas mais diferentes áreas. São essencialmente países convictamente convencidos que as tecnologias digitais estão associadas a uma maior produtividade, investimento e eficiência, e, como resultante, têm as taxas de digitalização mais elevadas do mundo. Entre os principais países enquadrados neste grupo estão: a Dinamarca, a Noruega, a Suíça, a Coreia do Sul, a Irlanda, etc. São países em que a transformação digital não é vista como um conceito vindouro ou futurista, mas um conceito atual, indispensável à continuidade e competitividade das empresas. Esta elite de países já interiorizou que a transformação digital é um processo de mudança de mentalidade nas empresas, ou seja, é um novo paradigma. Adotam a tecnologia com o objectivo de se tornarem mais modernas, aperfeiçoarem as suas performances, darem escalabilidades aos seus negócios e criaram plataformas tecnológicas que impactam em toda a sociedade. Ou seja, consideram a transformação digital não como um fim em si mesmo, mas como um desafio mais de gestão e não como instrumentos de marketing ou ferramenta tecnológica. São, de facto, países que aceitaram os desafios da inovação digital e, neste sentido, estão cada vez mais receptivos a implementar programas de mudança nas empresas, nas quais a tecnologia ganhou uma posição estratégica fundamental. Apesar de tudo, a bússola digital começa a evidenciar alguma desaceleração na incessante procura de inovação.
Em contrapartida, os países break out têm taxas de utilização digital muito abaixo da média em todos os sectores, apresentam grandes obstáculos ao investimento. Os incentivos por parte do governo, são nulos ou inexistentes, e conhecem um desenvolvimento económico muito baixo.
Não significa, porém, que estes países não tenham potencial para a transformação digital. Enfrentam, todavia, problemas relacionados com infra-estruturas relativamente débeis ou inexistentes em certas zonas do seu território, situação que condiciona qualquer iniciativa relativamente à evolução da transformação digital. São países que se encontram numa fase de digitalização primária que é entendida, em termos estreitos, como um processo de transição da informação analógica para uma forma digital, ou seja, ainda se encontram na fase da conversão. São países que possivelmente assumem, assim como alguns senhores, de mentalidade pacioliana, mas com algumas responsabilidades académicas, que a digitalização se circunscreve à transformação dos dados em bits e o seu armazenamento em dispositivos eletrónicos. É certo que muitas empresas, e sobretudo o Estado, beneficiam deste processo, que se consubstancia na redução de custos, mais acessibilidade e maior protecção dos dados. Integram este sector, entre outros, o México, a Rússia, Marrocos, o Bangladesh, etc. que são, como se sabe, países imensos, mas estruturados em economias não muito desenvolvidas.
Têm, contudo, potencial para crescer, caso invistam em infra-estruturas.
Os países que se encontram na zona watch out têm um nível muito baixo de digitalização, e, como resultante, a transformação digital ainda não se encontra em níveis aceitáveis de identificação. Além disso, não investem em tecnologia, o que, além de não ajudar o seu crescimento, também não provoca atractividade para os investidores. A solução para os problemas destes países será melhorar o acesso à Internet por partes das populações, e subsidiar a compra de dispositivos móveis. Os países que se encontram no campo do reduzido ou nenhum desenvolvimento digital são: o Peru, a África do Sul, o Egito e o Paquistão.
Os países em stand out são economias que estão a impulsionar e a concretizar grandes investimentos na infra-estrutura tecnológica, que irão permitir a criação de um ambiente propício à inovação, e que caminham para a zona de vanguarda digital. Singapura, Nova Zelândia e Reino Unido são países enquadráveis nesta zona.
Portugal, a par da Letónia, Polónia, Turquia e China, estão inseridos numa zona própria entre os países break out e os países stand out. Dentro desta área, Portugal revela mais proximidade com os países stand out do que os países break out. Como o plano de acção para a transição digital, preparado no Ministério da Economia e Transição Digital, e publicado em Diário da República em 21 de abril de 2020, o governo português elegeu os seguintes pilares básicos: a capacitação digital das pessoas, a transformação digital das empresas e a digitalização do Estado.
Espera-se que a implementação prática destas medidas direcionem Portugal, para já, para um país reconhecidamente stand out, porque, para 2030, a estratégia portuguesa é bastante mais ambiciosa, dado querer a liderança em determinados setores digitais. Se o plano não for um conjunto de meras intenções seremos, em 2030, potencialmente o “Ronaldo” digital da Europa. Mas se tudo não passar de palavras, ou seja, se nada ou pouco se realizar, seremos, em 2030, um país break out ou watch out?
O futuro o dirá, mas espero que o digital não siga o mesmo rumo da Economia.