É complexo analisar a utilização de inteligência artificial (IA) nas empresas portuguesas, sobretudo, por falta de dados. No entanto, através do quadro seguinte, baseado em elementos da consultora Mckinsey (2020), sabe-se que, em Portugal, este tema tem pouca expressão.
A consultora analisou o nível de preparação de diferentes países sobre a utilização da inteligência artificial utilizando 7 indicadores: quantidade e qualidade do talento disponível, nível de investimento em IA, quantidade e qualidade dos dados disponíveis e da infraestrutura tecnológica existente, nível de investigação em IA, adoção tecnológica do setor privado e seu potencial atual e futuro e nível de enquadramento legislativo, classificando os países em 4 grupos.
Portugal situa-se no último grupo, o que quer dizer que tem pela frente um trabalho enorme para aplicar a IA ao setor público e privado. De forma convergente, a Universidade de Stanford publicou, em 2020, uma ferramenta interativa denominada Global IA Vibrancy Tool, que analisa, em múltiplos países, o nível de aplicação de IA.
Em termos de aplicabilidade de IA, em 26 países, nos setores de investigação e desenvolvimento, economia e inclusão, a nossa vizinha Espanha aparece em 23º lugar, a Rússia aparece em último e no 11º lugar aparece a Finlândia, logo seguido pela Alemanha, Portugal e Grécia não aparecem, quiçá, por falta de dados ou por não serem disponibilizados valores em IA minimamente significantes.
Observando o gráfico seguinte, com base em oito critérios embutidos na figura, verifica-se que Portugal, para os critérios de IA, se encontra no limite inferior. Só a nível de inovação é que Portugal está acima da média, conforme a figura 3. Contudo, esta inovação é mais incrementalista do que propriamente disruptiva.
No estudo efetuado em 2020 pela ACEPI – Associação da Economia Digital, constata-se que a inteligência artificial, aplicada nas empresas portuguesas, é insignificante, existindo somente 9% de empresas que a utilizam e 14% que têm intenção de a utilizar. Veja-se a próxima figura:
Conclui-se, em consequência, que os sistemas de gestão baseados em técnicas de inteligência artificial são praticamente inexistentes na maioria das empresas portuguesas. A expressão inteligência artificial está associada ao desenvolvimento de agrupamentos especializados – wizard systems. Estes sistemas são baseados em conhecimento, são construídos principalmente com regras que reproduzem o conhecimento de um perito e são utilizadas para solucionar determinados problemas em domínios específicos. De facto, a concessão de crédito para a habitação, na maioria dos bancos, já é feita através de algoritmos, duas lojas da Sonae Lab existentes em Lisboa – Arco do Cego – já utilizam inteligência artificial, a Fundação Champalimaud emprega também idênticas ferramentas, bem como algumas tecnológicas (Feedzai, por exemplo). No entanto, a esmagadora maioria das empresas portuguesas ainda não operam com IA ou não a incluem nos planos para o futuro, situação que afeta o investimento e a sua competividade.
1 Em homenagem a António Madeira Teixeira, fundador do Grupo Fapricela, Ançã – Coimbra
Marques de Almeida – Economista, in Diário As Beiras (13-06-2022)
Seria impossível não falar do que se passa na Ucrânia, não falar do que se passa em Portugal e nos países da Europa que têm apoiado os ucranianos. E da forma como a tecnologia permitiu que, rapidamente, cidadãos se mobilizassem e fizessem corresponder disponibilidades de outros às necessidades de outros. Um cenário verdadeiro de Apps for good, uso da tecnologia, sem fins lucrativos e ao serviço da Sociedade.
Há alguns anos, em 2007, uma das minhas amigas, Madalena, tendo noção que muitas pessoas tinham “coisas” em casa de que não precisavam e outras pessoas tinham necessidades dessas “coisas” e faltava um canal de comunicação entre elas, criou um portal com o nome Sermais.org onde era possível fazer essa correspondência tão necessária. A Madalena, com a sua visão à frente no seu tempo, fez a diferença na vida de muitas pessoas: “estabelecer a ligação entre quem precisa e quem tem” era uma das frases-lema. E, na verdade, é esse o espírito de muitas plataformas que hoje estão a ajudar os milhões de refugiados ucranianos que estão a tentar sair do país.
Uma das plataformas neste momento mais conhecidas, wehelpukraine.org, usou o princípio-base do Sermais.org, escalando-o ao nível global de muitos milhões de potenciais utilizadores, envolvendo a Academia e um conjunto de parceiros tecnológicos e a boa vontade de muitos profissionais. Estratégias eficazes de comunicação e colaboração garantiram que, em poucos dias, a plataforma estivesse a funcionar e a ajudar quem precisava.
Em tecnologia, grande parte da eficácia depende do interesse das pessoas. E as pessoas ficaram de imediato despertas para esta realidade: a 1 de Março já o SAPO noticiava que: “a iniciativa [we help Ukraine] já está a unir esforços do mundo inteiro, incluindo do Canadá, dos Estados Unidos e do Reino Unido”, tinha “mais de 5.000 pedidos de ajuda e mais de 5.000 pessoas que querem ajudar”, incluindo uma mensagem do nosso Presidente da República.
Atualmente, a ajuda pode ser registada em 13 idiomas e oferecer/solicitar alojamento, transporte, documentação, assistência médica, apoio psicológico entre outros.
A tecnologia permite, todos os dias, que vejamos vídeos que, em tempo real, relatam os horrores da guerra, mas também acompanhar as caravanas de medicamentos e materiais de todo o tipo que têm sido encaminhados para as fronteiras. Permite saber quantas pessoas estão a ser ajudadas, onde fazer donativos, material em falta e registar e tornar virais algumas histórias de esperança, como a música em Kiev, a determinação de atletas ucranianos em provas, quando há poucos dias estavam em abrigos improvisados, acompanhar, já na Polónia e a salvo, a criança que cantou “Let it go…” (de Frozen) num abrigo…afinal, juntar tecnologia, solidariedade e esperança, concentrando a tecnologia ao serviço do bem…
Isabel Pedrosa – Docente de Tecnologias de Informação, in Diário As Beiras (31-03-2022)
O ecossistema digital age dentro dos processos de produção e tomada de decisão existentes, expandindo-se através de signos da linguagem digital para fazer emergir novas ideologias (mindset) com utilização intensiva de novas ferramentas que determinam outras competências, não só para utilização, mas sobretudo para extracção de utilidade económica, social, tecnológica, ecológica e legal.
Nos últimos trinta anos, as orientações emanadas através dos códigos de convivência e cordialidade para uma administração sustentável da sociedade, estimulam uma aproximação “humano-máquina” através de processos e métodos algorítmicos que produzem novas relações (inteligência relacional) e novas linguagens de interação no espaço físico, no ciberespaço e no metaverso.
A necessidade de ligar com volumes, velocidades e variedades crescentes de dados promove novas formas de organização que pessoas, empresas e instituições mantenham o domínio sobre as estratégias, táticas e o trabalho operacional.
Tal assim é que, no passado dia 14 de Março, a proposta do MiCA (Markets in Crypto Assets) do parlamento Europeu, reconhece e legitima as DAOs (Organizações Autónomas Descentralizadas) para emissão de Criptoativos.
A decisão do parlamento sobre um modelo “societário” (Organizações Autónomas Descentralizadas) expresso através do MiCA, pode ser entendido como uma oportunidade e uma força mobilizadora, para que Portugal entenda e atue com os instrumentos de política monetária, financeira, económica e societal através de uma plataforma de progressão digital contínua em três planos: no território, no ciberespaço e no metaverso.
As DAO são implementadas na prática através de algoritmos (complexo de contratos inteligentes), com capacidade de atuação autónoma e automática, mas onde a componente humana (apesar da descentralização) continua a imprimir direcção e desígnio, sobretudo nas fases iniciais de constituição e arranque do novo método de empreender através do modelo de Organização Autónoma Descentralizada.
Em se tratando de um conjunto de instruções para execução automática e autónoma de código informático, que agora modeliza e age como uma empresa, importa relevar que, as peças de software que compõe os contratos inteligentes estão na verdade a “algoritmizar” uma competência humana para estabelecer modos de organização inteligente, e de trabalho em conjunto de células híbridas “humano-máquina”.
Chegou a hora da Organização Coletiva da Inteligência, ligando o pensamento e funções computacionais com as experiências, competências e a sensibilidade das Humanidades Digitais.
Francisco Lavrador Pires – Engenharia, Inovação e Desenvolvimento Organizacional, in Diário As Beiras (31-03-2022)
Volvidos dois anos do início do Plano de Ação para a Transição Digital e com um novo Governo que agora toma posse a transferir esta pasta do Ministério da Economia para a dependência direta do Primeiro-Ministro (talvez num sinal da sua importância crescente?), vale a pena lançar um olhar sobre a trajectória da Transição Digital neste anos conturbados.
Eleita como um dos desafios estratégicos do programa do anterior governo, a Transição Digital tornou-se num desígnio materializado na criação, pela primeira vez, de uma área governamental específica, integrada na pasta da Economia. E resultou na aprovação do Plano de Ação para a Transição Digital a 5 de março de 2020, a muitos poucos dias do início do primeiro confinamento que, como sabemos, acabou por acelerar a digitalização da economia e da sociedade, criando uma perceção única dos seus desafios e oportunidades. Arrisco a dizer que hoje, poucos temas serão tão consensuais na sociedade como a importância dos desafios da digitalização.
Os resultados deste Plano nacional têm vindo a ser reconhecidos quer pela União Europeia (UE) quer pela OCDE que aponta diversas medidas implementadas como exemplares (do reforço das competências digitais ao investimento na conectividade nas zonas rurais, às iniciativas alargadas de apoio à digitalização das empresas), equiparando-nos aos países com melhor desempenho.
Alavancados ou não pelo efeito da pandemia, são muitos os indicadores que apresentam melhorias significativas de 2019 para 2021. Da população que faz compras online (de 39% para 52%), do volume de negócio em comércio electrónico para PME onde Portugal ocupa o nº 4 na EU, da população que utiliza serviços públicos digitais (de 41% para 49%), da adesão à banda larga fixa rápida com Portugal no nº 3 na UE, etc.
E são várias as iniciativas em fase de lançamento que geram expectativas elevadas como os Polos de Inovação Digital, os Bairros Comerciais Digitais, o lançamento comercial do 5G, medidas estas que terão seguramente um impacto benéfico nesta transição.
Contudo, a forte dinâmica desta era digital implica inevitavelmente novos desafios. Por exemplo, em matéria de literacia digital, um dos desígnios deste Plano, Portugal ambiciona fazer em dez anos o mesmo percurso que fez em 50 de democracia na redução da taxa de analfabetismo, onde passou de 25% em 1970 para 5%. Em termos de infoexclusão da população, Portugal passou de 26% em 2016 para 16% em 2021 e tem como objectivo atingir 5% em 2030!
Esta expetativa de progressão será seguramente impulsionada pelo resultado dos investimentos substanciais em matéria de transição digital que se têm vindo a concretizar e que estão previstos para muito breve. Que demonstram que estamos a caminho de ser uma nação cada vez mais digital.
Victor Francisco – Gestor de Projetos, in Diário As Beiras (31-03-2022)
Neste artigo continuamos a apresentar uma síntese das principais conclusões contidas no recente relatório do Painel Intergovernamental para o estudo das mudanças climáticas (IPCC), designado por Relatório de Avaliação 6 (Assessment Report ou AR69. São referidos com frequência os dados e as conclusões obtidos desde 2013, quando se publicou o AR5, e o presente, para evidenciar a cada vez maior certeza que existe, acerca da influência das actividades humanas na mudança climática e a taxa crescente a que esta se está a desenvolver, de acordo com diversos indicadores objetivos.
Eventos extremos
O Relatório de Avaliação anterior AR5 já indicava que a influência humana tinha sido detetada na mudança de alguns extremos climáticos. No AR6 existe um capítulo dedicado a este assunto, no qual se conclui que constitui agora um facto estabelecido que as emissões de gases com efeito de estufa, induzidas pela acção humana, conduziram a um aumento da frequência e/ou da intensidade de alguns extremos climáticos, desde 1850, em particular de extremos da temperatura. Esta evidência de alterações observadas e a atribuição à influência humana foi reforçada desde o Relatório anterior, para diferentes tipos de extremos, em especial para precipitação extrema, secas, ciclones tropicais e extremos que derivam desta conjugação de condições, como é o caso do perigo de incêndio.
Tempo para se atingir 1.5º C de aquecimento global
No Relatório anterior estimava-se que o valor de 1.5º C de aquecimento global (ou seja, a temperatura média da atmosfera para um período de 30 anos), admitindo a existência de uma taxa de aquecimento constante e continuada, seria atingido entre 2030 e 2052. No AR6, empregando aproximações ligeiramente diferentes das anteriores, mas combinando a estimativa aumentada do aquecimento global, e a resposta prevista para todos os cenários considerados, a estimativa da data de ultrapassagem do valor de 1.5ºC na temperatura média global (para um período de 20 anos) é que esta ocorra no início da década de 2030, ou seja, cerca de dez anos mais cedo do que a previsão do Relatório anterior, admitindo que não ocorre qualquer erupção vulcânica importante.
Balanços de carbono restantes
O Relatório anterior tinha estimado que a resposta transiente do clima à acumulação de carbono devido às emissões de CO2 estivesse na gama de 0.8 a 2.5º C por cada 1000GTC (uma giga tonelada de carbono corresponde a 3.67 GTCO2). Com base em evidências provenientes de diferentes origens, o AR6 preconiza um limite mais estreito para este parâmetro, entre 1.0 e 2.3º C por cada 1000 GTC, o que significa, em média, uma maior taxa de aumento da temperatura com as emissões.
Efeitos de factores de curto prazo sobre o aquecimento global nas próximas décadas
O AR5 ao estudar o efeito da redução das emissões dos aerossóis de refrigeração, tinha visto que o mesmo se opunha aos efeitos das medidas de mitigação dos gases com efeito de estufa, por duas ou três décadas, para limitar o aquecimento global para 1.5ºC. O AR6 atualiza o estudo anterior e confirma que as mudanças nos factores de curto prazo, associados a estes aerossóis, irão muito provavelmente causar um aquecimento adicional durante as próximas duas décadas, em todos os cenários de previsão.
COVID-19
A redução temporária de emissões que ocorreu em 2020, associada ao confinamento do COVID-19, conduziu a um pequeno efeito positivo no balanço radiactivo.
Contudo as respostas regionais e globais a este forçamento são indetectáveis acima da variabilidade climática, devido à natureza temporária da redução das emissões.
Domingos Xavier Viegas – Professor Jubilado da UC, in Diário As Beiras (21-04-2022)
Tem dúvidas sobre os seus direitos e deveres na hora de requerer uma inspeção do gás na sua casa? Saiba o que diz a legislação sobre este tema.
Embora seja um procedimento obrigatório para muitos portugueses, a inspeção do gás ainda levanta algumas dúvidas, principalmente no que diz respeito às obrigações legais. Nem todas as pessoas estão a par da legislação ou das suas obrigações contratuais. Para conseguir perceber os seus deveres, deve em primeiro lugar verificar se a sua instalação de gás já foi alvo de uma inspeção e se tem acesso ao certificado da mesma.
Contudo, se não está por dentro deste tema, não se preocupe. Neste artigo vamos abordar as questões mais comuns sobre esta temática. Pode ainda descobrir o que diz a lei sobre a mudança de comercializador ou titular, e ainda, quem deve suportar os custos de uma inspeção do gás periódica.
Onde posso encontrar a legislação sobre a inspeção do gás?
Se não está a par do que consta na legislação ou necessita tirar uma dúvida específica sobre as inspeções ou instalações de gás, pode consultar a Lei nº 97/2017, de 10 de agosto. Deve ter atenção que essa legislação já sofreu alterações, e por isso mesmo é importante que também consulte a Lei nº59/2018, de 21 de agosto.
É através desta legislação que pode informar-se de todos os procedimentos e requisitos legais sobre a instalação de gás, manutenção, prazos, inspeções, reclamações, entre outras temáticas. Se as suas questões são relativas apenas à inspeção, pode consultar a legislação a partir da seção IV.
Existem diferentes tipos de inspeções?
Sim. Legalmente existem três diferentes tipos de inspeções do gás, que se destinam a situações distintas. A primeira é relevante para quem quiser construir/adquirir uma habitação nova a estrear ou para quem pretenda instalar pela primeira vez gás natural na sua habitação.
Esta inspeção, designada como inicial, é apenas realizada no final da construção da instalação e antes desta ser abastecida com gás natural. No entanto, as inspeções iniciais de gás são fundamentais para garantir que não existem problemas funcionais, limitações ou defeitos que podem colocar a segurança em causa. Por isso, devem estar vários profissionais presentes no local para fazer a devida avaliação e fazer a declaração da inspeção. Em caso de dúvida aconselhamos a ler do artigo 13º ao 18º da devida legislação.
O segundo tipo de inspeção, é a mais comum e é designada de inspeção periódica. As inspeções de gás periódicas são obrigatórias para todas as instalações que estejam abastecidas de gás dentro dos termos da lei. No entanto, a periodicidade destas inspeções variam consoante o tipo de edifício ou recinto em questão.
Por último, existem as inspeções extraordinárias. Este tipo de inspeção apenas deve ocorrer em algumas situações específicos. Por exemplo, estas estão indicadas em casos de uma reconversão, quando são feitas alterações ou substituições de componentes. Para além destas, sempre que exista uma fuga de gás ou interrupção por existir um defeito do tipo-G.
Se eu mudar de comercializador de gás ou de titular, tenho que fazer uma inspeção extraordinária?
Não, mas apenas se não se verificarem alguns aspetos. A legislação indica que a mudança de comercializador de gás ou de titular do contrato de fornecimento de gás não implica a realização de uma inspeção extraordinaria. Contudo, esta apenas não é obrigatória caso não tenha existido uma interrupção de fornecimento de gás por motivos técnicos. O mesmo acontece no caso de ocorrerem as situações ou problemas que levam à necessidade deste tipo de inspeção.
Em todo o caso, é necessária uma declaração de inspeção válida que aprove a instalação. Esta mesma declaração também permite validar que não foram substituídos aparelhos a gás, e não só. Também não pode ter substituído sistemas de ventilação e exaustão dos produtos da combustão dos aparelhos a gás.
Caso venha a necessitar realizar uma inspeção extraordinária, deve saber que o prazo para a inspeção periódica passa a contar-se a partir da inspeção extraordinária.
De quanto em quanto tempo devo realizar uma inspeção do gás periódica?
Após a primeira alteração a esta legislação, os prazos obrigatórios para a realização das inspeções periódicas são agora os seguintes:
De 5 em 5 anos: Desde que as instalações de gás tenham sido executadas há mais de 10 anos e não tenham sido objeto de remodelação.
Ou de 3 em 3 anos: Esta periodicidade destina-se aos edifícios que estão classificados de acordo com a legislação em vigor, tendo como exemplo escolas, hospitais, edifícios administrativos, entre outros.
Há algum aviso se me esquecer de realizar a inspeção ou cortam-me o fornecimento?
Segundo o que diz a legislação, no ponto 4 do 21º artigo da Lei n.º 59/2018, a DGEG deve ter mecanismos para avisar as entidades com a antecedência de 6 meses de quando deve ser feita a inspeção. No entanto, todas as pessoas também devem estar atentas à data em que se deve realizar esta obrigação.
Se deixar passar o prazo da sua inspeção periódica, a Direção-Geral de Energia e Geologia deve notificá-lo para realizar a mesma no prazo máximo de 3 meses. Apenas se não proceder à mesma depois de receber esta notificação, então neste caso a entidade distribuidora de gás é avisada. A partir deste momento, o distribuidor pode proceder ao corte do abastecimento, depois de enviar um pré-aviso. Este aviso é emitido ao comercializador ou diretamente ao consumidor.
Em caso de precisar de realizar uma inspeção pode contactar uma entidade inspetora de gás e requisitar a mesma. Se está com dúvidas ou dificuldades em encontrar uma entidade autentificada, pode consultar a listagem no site da DGEG.
As inspeções do gás são pagas pelo senhorio ou pelo arrendatário?
Tudo depende do que está escrito ou acordado no seu contrato de arrendamento. A lei indica, mais concretamente no 17º artigo, que cabe ao proprietário ou ao usufrutuário da instalação ou aparelho a gás promover a inspeção e suportar o devido encargo, consoante as seguintes inspeções a realizar:
Quando a inspeção é relativa às partes comuns de prédios constituídos em propriedade horizontal, a responsabilidade cabe ao condomínio;
Nas frações arrendadas, quando o respetivo contrato transferir a responsabilidade para o arrendatário, este é responsável pela inspeção, e também das inspeções de aparelhos a gás que decida adquirir e mandar instalar;
Numa conversão ou reconversão das instalações a gás: Esta é da responsabilidade da entidade que decidir contratar este trabalho.
É obrigatório receber o certificado da inspeção do gás?
O certificado da inspeção do gás ou declaração da mesma é da responsabilidade da EIG, que faz a análise à instalação a gás. Após uma inspeção, esta declaração fica disponível através de um código de acesso. Este é dado pela EIG ao responsável pela instalação. Desta forma, fica com o registo da inspeção e o resultado da mesma, que pode ser positivo ou negativo, caso resulte uma reprovação.
Caso a sua instalação reprove, na declaração vai encontrar os defeitos, limitações e problemas que tem atualmente. É importante saber que nestes casos o abastecimento a gás pode ser proibido, sendo apenas restaurado após o problema estar resolvido.
É fundamental possuir sempre esta declaração, não só para estar a par das datas de uma próxima inspeção periódica, como para comprovar a sua realização.
Existem cuidados específicos que devo ter no dia da inspeção?
Sim, existem pequenos cuidados que deve ter no dia de uma inspeção, de forma a aumentar a segurança e garantir que a mesma é feita através das melhores práticas. Por exemplo, deve sempre assegurar que os contadores de eletricidade e da água estão ligados e a funcionar. Para além disso, deve verificar se os aparelhos estão preparados para receber gás natural e estão devidamente ligados à instalação. Já o exaustor também deve estar a funcionar durante o período em que a inspeção decorrer.
Por fim, se instalou nos últimos tempos algum sistema de aquecimento central ou um equipamento a gás, é importante contactar o técnico da empresa instaladora para este estar presente no local. Desta forma, o técnico pode realizar o teste de CO, monóxido de carbono, durante o período da inspeção.
Nota final: Em caso de dúvidas, deve contactar as entidades competentes de forma a ver as suas questões esclarecidas.
A Harvard Business Review faculta aos profissionais de todo o mundo pesquisas inteligentes e ideias importantes sobre gestão, que impactam positivamente nas organizações empresariais, tornando-as mais eficientes.
A prestigiada revista, no que tange à competitividade digital dos países, divide o mundo em quadro zonas de desenvolvimento tecnológico a saber: países stall out, break out, stand out e watch out.
Os países que se encontram na fase stall out, já abraçaram o potencial das tecnologias digitais, estão na vanguarda da digitalização, concebem a digitalização mais como uma oportunidade do que como uma ameaça, desenvolvem-na como um ecossistema, e por isso, são considerados os protagonistas na busca de inovação nas mais diferentes áreas. São essencialmente países convictamente convencidos que as tecnologias digitais estão associadas a uma maior produtividade, investimento e eficiência, e, como resultante, têm as taxas de digitalização mais elevadas do mundo. Entre os principais países enquadrados neste grupo estão: a Dinamarca, a Noruega, a Suíça, a Coreia do Sul, a Irlanda, etc. São países em que a transformação digital não é vista como um conceito vindouro ou futurista, mas um conceito atual, indispensável à continuidade e competitividade das empresas. Esta elite de países já interiorizou que a transformação digital é um processo de mudança de mentalidade nas empresas, ou seja, é um novo paradigma. Adotam a tecnologia com o objectivo de se tornarem mais modernas, aperfeiçoarem as suas performances, darem escalabilidades aos seus negócios e criaram plataformas tecnológicas que impactam em toda a sociedade. Ou seja, consideram a transformação digital não como um fim em si mesmo, mas como um desafio mais de gestão e não como instrumentos de marketing ou ferramenta tecnológica. São, de facto, países que aceitaram os desafios da inovação digital e, neste sentido, estão cada vez mais receptivos a implementar programas de mudança nas empresas, nas quais a tecnologia ganhou uma posição estratégica fundamental. Apesar de tudo, a bússola digital começa a evidenciar alguma desaceleração na incessante procura de inovação.
Em contrapartida, os países break out têm taxas de utilização digital muito abaixo da média em todos os sectores, apresentam grandes obstáculos ao investimento. Os incentivos por parte do governo, são nulos ou inexistentes, e conhecem um desenvolvimento económico muito baixo.
Não significa, porém, que estes países não tenham potencial para a transformação digital. Enfrentam, todavia, problemas relacionados com infra-estruturas relativamente débeis ou inexistentes em certas zonas do seu território, situação que condiciona qualquer iniciativa relativamente à evolução da transformação digital. São países que se encontram numa fase de digitalização primária que é entendida, em termos estreitos, como um processo de transição da informação analógica para uma forma digital, ou seja, ainda se encontram na fase da conversão. São países que possivelmente assumem, assim como alguns senhores, de mentalidade pacioliana, mas com algumas responsabilidades académicas, que a digitalização se circunscreve à transformação dos dados em bits e o seu armazenamento em dispositivos eletrónicos. É certo que muitas empresas, e sobretudo o Estado, beneficiam deste processo, que se consubstancia na redução de custos, mais acessibilidade e maior protecção dos dados. Integram este sector, entre outros, o México, a Rússia, Marrocos, o Bangladesh, etc. que são, como se sabe, países imensos, mas estruturados em economias não muito desenvolvidas.
Têm, contudo, potencial para crescer, caso invistam em infra-estruturas.
Os países que se encontram na zona watch out têm um nível muito baixo de digitalização, e, como resultante, a transformação digital ainda não se encontra em níveis aceitáveis de identificação. Além disso, não investem em tecnologia, o que, além de não ajudar o seu crescimento, também não provoca atractividade para os investidores. A solução para os problemas destes países será melhorar o acesso à Internet por partes das populações, e subsidiar a compra de dispositivos móveis. Os países que se encontram no campo do reduzido ou nenhum desenvolvimento digital são: o Peru, a África do Sul, o Egito e o Paquistão.
Os países em stand out são economias que estão a impulsionar e a concretizar grandes investimentos na infra-estrutura tecnológica, que irão permitir a criação de um ambiente propício à inovação, e que caminham para a zona de vanguarda digital. Singapura, Nova Zelândia e Reino Unido são países enquadráveis nesta zona.
Portugal, a par da Letónia, Polónia, Turquia e China, estão inseridos numa zona própria entre os países break out e os países stand out. Dentro desta área, Portugal revela mais proximidade com os países stand out do que os países break out. Como o plano de acção para a transição digital, preparado no Ministério da Economia e Transição Digital, e publicado em Diário da República em 21 de abril de 2020, o governo português elegeu os seguintes pilares básicos: a capacitação digital das pessoas, a transformação digital das empresas e a digitalização do Estado.
Espera-se que a implementação prática destas medidas direcionem Portugal, para já, para um país reconhecidamente stand out, porque, para 2030, a estratégia portuguesa é bastante mais ambiciosa, dado querer a liderança em determinados setores digitais. Se o plano não for um conjunto de meras intenções seremos, em 2030, potencialmente o “Ronaldo” digital da Europa. Mas se tudo não passar de palavras, ou seja, se nada ou pouco se realizar, seremos, em 2030, um país break out ou watch out?
O futuro o dirá, mas espero que o digital não siga o mesmo rumo da Economia.
Marques de Almeida – Economista, in Diário As Beiras (18-04-2022)
13O termo digital tem a sua génese na palavra Digitus, que significa dado, em latim. As tecnologias digitais são constituídas por um conjunto de ferramentas que permitem, nomeadamente, a transformação de qualquer linguagem ou dado em algarismos, ou seja, em zeros e uns: uma imagem, um texto, ou a sua agregação, são traduzidos em números e lidos por diversos dispositivos. Estas técnicas digitais surgiram no século XX e revolucionaram a indústria, economia e a sociedade. Adicionalmente, permitiram a descentralização da informação, o aumento da segurança das bases de dados, e diversificaram a sua aplicação às diferentes funções empresariais: áreas de acesso a clientes, para agilizar as encomendas e otimizar o relacionamento (Chats, E-mail, WhatsApp, Telegram, Messenger e Wech, etc); canais de venda e marketing, para ampliar o mercado e trabalhar com mais rentabilidade na área de importação e exportação de produtos (lojas virtuais); processos produtivos, acompanhados de uma maneira mais eficiente através de sensores e câmaras de alta definição, para identificação de produtos e condições operacionais (sistemas ciberfísicos). A tecnologia digital é então, um sistema discreto baseado em metodologias de codificação e transmissão de dados de informação, incluindo fotos, textos, sons e imagens, em sistemas binários que podem ser reconhecidos com dispositivos eletrónicos diversos e com a ajuda do computador. Atualmente, a experiência começa e acaba com canais de tecnologia digital e não com instrumente analógicos. A tecnologia digital mudou os hábitos dos consumidores e, por isso, a procura tornou-se mais meticulosa na era digital. As empresas podem utilizar várias tecnologias digitais, desde as mais consolidadas até às ainda emergentes. Nesta sequência, referem-se alguns exemplos dessas aplicações.
As tecnologias web e móveis assumem relevância quando é analisado o uso de dispositivos digitais pela procura. A média global da utilização desses aparelhos é de 6,7 horas diárias, tendo em atenção que as gerações Y e Z gastam uma média de 8,5 e 10,6 horas por dia, respectivamente. Ou seja, os indivíduos, que formam a sociedade, usam dispositivos digitais em cerca de 42% do tempo em que estão acordados (assumindo 8 horas diárias de sono). Para os millenials, esse valor é de 55% e, para a geração Z de 66%.
Uma vez que vários dispositivos digitais, como smartphones, tablets, laptops e desktops, empregam tecnologias móveis e web, a implementação adequada destas ferramentas é importante para fornecer uma boa experiencia de empenho aos clientes. Tendencialmente, a aplicação destes aparelhos aumentará com o tempo, conforme a evolução geracional e, deste modo, maior será a procura dos que querem adotar soluções digitais.
A computação na cloud soluciona a exigência dos clientes que ambiciona uma experiência de compra mais facilitada. Para atender a esse fim, as empresas podem implantar um atendimento ao consumidor que unifique todos os canais de comunicação disponíveis, processo conhecido como atendimento omnichannel. O exercício conjunto de automação robótica de processos e de machine learning resolve a questão: 75% dos compradores on-line esperam obter uma resposta para os seus problemas em menos de cinco minutos.
A tecnologia big data é relevante devido à falta de implantação de estratégias customercentric nas empresas, dada a dificuldade em manusear o volume, velocidade e variedade de dados existentes. Com o tratamento adequado desses dados, as empresas têm mais informação sobre os seus negócios, e podem traduzir esse novo conhecimento em ações que aperfeiçoem os seus produtos e processos. A internet das coisas auxilia na coleta de dados a tratar em tecnologia big data.
A tecnologia blockchain, mostra uma aplicação, inserida no contexto da crise de 2008, suscetível de dar respostas à centralização que abalou o sistema financeiro global. A credibilidade dessas instituições diminuiu e a procura dos indivíduos por mais maior e melhor segurança cresceu. Para permitir que transações financeiras – ou outros tipos de transações, como de valores mobiliários e de escrituração de imóveis ou mesmo contabilidade – possam ser desenvolvidos com segurança e de maneira descentralizada por instituições menores, o uso de blockchain pode ser adotado.
Devido ao carácter imutável e seguro da sua cadeia de transações, a tecnologia consegue aumentar a confiança dos clientes nos serviços oferecidos por pequenas e médias empresas. A descentralização é a sua característica básica e ameaça muitas profissões (contabilistas, notários, auditores, etc).
Em síntese:
A influência dos factores discutidos, assim como as relações existentes entre eles, pode ser representada através do diagrama subsequente:
A utilização mais frequente das tecnologias motivou um melhor conhecimento de mercado pelos indivíduos e, deste modo, os seus conceitos sobre empresas, produtos e tecnologias, aperfeiçoaram-se. Este efeito, é causado e acentuado pelo maior acesso à tecnologia digital das gerações Y, Z e Alpha, em virtude de serem as gerações que passaram mais tempo de vida no mundo digital.
Em suma, o maior conhecimento de mercado ditou três fenómenos: o primeiro foi o da prossumerização, que diz respeito à participação dos clientes no fabrico dos produtos; o segundo, foi a consumerização da TI, que se refere à implantação empresarial das tecnologias digitais utilizadas pelos seus funcionários nas suas vidas particulares; o terceiro, foram as expectativas líquidas, ou seja, que as experiências obtidas num setor de mercado aconteçam noutros. Todos eles, em simultâneo, provocam o aumento da exigência dos clientes, que procuram, na era digital, mais qualidade e personalização dos produtos. A própria Europa tenciona capacitar as empresas e as pessoas num futuro digital centrado no ser humano, sustentável e próspero, a concretizar até ao ano 2030. Em Portugal, os fundos para a digitalização vão ser abrangidos, em cerca de 80%, pelo Estado e 20% pelas empresas, situação que todos os especialistas sobre o assunto consideram desproporcionada, iníqua e injusta, e talvez ideológica.
Marques de Almeida – Economista, in Diário As Beiras (05-04-2022)
Casas digitais são mais confortáveis, eficientes, seguras. E quanto custam? O idealista/news foi descobrir junto de especialistas.
O futuro (e já o presente) é digital. A indústria 4.0 está aí e assiste-se à evolução gritante da digitalização nas mais diversas áreas de negócio: das telecomunicações ao ramo automóvel. E como é que o imobiliário está a abraçar esta revolução digital? Nos negócios, há avanços a olhos vistos na forma como as casas chegam às famílias, e como se procuram as casas, mas ainda estamos longe de alcançar uma transação imobiliária 100% digital em Portugal. E na casa tudo muda: as casas tornam-se inteligentes, mais eficientes, confortáveis e seguras. O imobiliário já abriu a porta à digitalização, uma tendência que acelerou ainda mais durante a pandemia. Há, no entanto, um longo caminho ainda a percorrer, cheio de desafios. O idealista/news foi descobrir o que está, hoje, a mudar nas casas e nos negócios imobiliários junto de profissionais do setor.
A digitalização da compra e venda de casas
Durante a pandemia tanto os profissionais como as famílias viram-se confinados em casa e os negócios imobiliários tiveram de se reinventar. E aqui a tecnologia teve um papel determinante. “Com a pandemia assistimos a uma maior utilização dos meios digitais no imobiliário, um setor onde a tecnologia já não será apenas uma necessidade, mas uma obrigação”, começa por destacar João Braz, head of idealista/data Portugal.
O mercado imobiliário “viu, de facto, as pessoas com menos apetência por visitas desnecessárias, portanto, a componente visita virtual, o 3D e todos os suportes media conheceram uma evolução muito significativa” durante os últimos dois anos, confirma Alfredo Valente, CEO e diretor geral da mediadora imobiliária iad Portugal.
A verdade é que a aceleração da digitalização do imobiliário “teve impacto nas várias fases da mediação imobiliária, desde o processo de angariação até à divulgação de imóveis” junto dos potenciais compradores, indica João Braz. Mas ainda há um longo caminho a percorrer. No entender de Alfredo Valente, “ainda não conseguimos digitalizar toda a experiência do cliente do início ao fim”. Isto porque “continuamos a ter que assinar imensos papéis, continuamos a ter de nos dirigir a imensas instituições públicas para pedir documentação. E essa é a experiência digital que importa ainda fazer: é desmaterializar totalmente a experiência do cliente”, reforça o CEO da iad Portugal em entrevista.
“A pandemia e o cenário atual de constantes mudanças vieram também reforçar a importância no setor imobiliário da análise de dados do mercado em tempo real, com vista a detetar tendências de mercado e oportunidades de negócio”, João Braz, head of idealista/data Portugal
Embora já seja possível assinar escrituras da casa online – com a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 126/2021 a 4 de abril deste ano -, Alfredo Valente considera que ficou esquecido um passo prévio que passa por “permitir às pessoas assinar com conforto um contrato de mediação imobiliária”. Isto porque, hoje, a “lei da mediação imobiliária em Portugal obriga os clientes a assinar, uma assinatura qualificada. O que é isto implica? Ou uma chave móvel digital ou um certificado digital ou um ‘token’, o que inibe a maior parte das pessoas de aceder à assinatura digital”, explica em entrevista ao idealista/news. Portanto, um dos primeiros passos a dar para digitalizar a transação imobiliária passaria, desde logo, por “alterar a lei da mediação imobiliária por forma a que o contrato possa ser assinado digitalmente com uma assinatura simples”, acredita.
“Estamos, portanto, muito longe de digitalizar a transação imobiliária em Portugal”, considera Alfredo Valente, que admite mesmo que há uma fase do processo que não pode mesmo ser substituída, sobretudo, se se tratar da compra de uma habitação para uso próprio. “Acho que a tecnologia está sempre para servir a fluidez do negócio, mas não substitui o momento quase emocional em que passamos a porta daquela que há de ser a nossa casa”.
Falar da fase final de uma transação imobiliária puramente digital passará necessariamente pelo pagamento da casa em criptomoedas, algo que se tem assistido no mercado português – até há pouco tempo – por via da conversão destas moedas digitais em euros. Mas também aqui já houve desenvolvimentos recentemente: com o novo regulamento da Ordem dos Notários passará a ser possível comprar e vender imóveis unicamente em moedas virtuais, tratando-se este como um negócio de permuta, isto é, onde há troca de bens por criptomoedas.
As casas inteligentes: solução do presente e do futuro
A par do negócio imobiliário, também a própria casa está cada vez mais digital.
As soluções de domótica existem no mercado residencial e têm o poder de adaptar as casas ao ‘modus vivendi’ de cada um, trazendo mais conforto, eficiência e segurança para as famílias. Mas como? “Com domótica tenho de chegar a casa e mandar em tudo: tenho de ser dono da televisão, da rega, de absolutamente tudo o que está na casa”, resume Luís Pinto, um dos proprietários da IOLine, a fabricante portuguesa da tecnologia de domótica Mordomus que está há 20 anos no mercado.
“A domótica serve para fazer a automatização de todas as funções que uma pessoa tem de fazer manualmente em casa”, como ligar a luz, abrir os estores, ligar o ar condicionado, regar, servir café, fazer a lista de compras do supermercado…, detalha Hatto Fehst, CEO da Enancer Electónica, a empresa portuguesa (sediada em Braga) detentora da tecnologia Only – Smart Buildings. Tudo isto e muito mais pode ser programado e ser realizado automaticamente em casa. E “isso faz a casa servir o dono e não o dono servir a casa”, sublinha o responsável em entrevista.
Todos estes aspetos saíram valorizados durante a pandemia, num cenário em que a casa passou a ser o centro de tudo. Luís Pinto, da Mordomus, assume que a procura das famílias por estas soluções de domótica “cresceu drasticamente na pandemia”. E também Filigério Pantaleão, Sales Department & Field Applications Engineer na Enancer Electrónica, conta que há cada vez mais pessoas a procurar solução de domótica Only. “Há gadgets que empurram as pessoas a procurar a integração de todos os aparelhos de forma estruturada. Mesmo os assistentes de voz também são um motivo para as pessoas procurarem a automação”, justifica o profissional.
E, agora, com a crise energética que atravessamos, a sua importância deverá ser ainda mais reforçada. “A necessidade de as pessoas tornarem ascasas mais eficientes e mais confortáveis – isto é , aliar o máximo de conforto ao mínimo consumo e gasto – e todo o espetro de possibilidades que o 5G nos traz, acho que vai pôr o assunto da automatização, da robotização, da domótica em cima da mesa nos próximos tempos”, acredita o CEO da iad Portugal.
Como é viver numa casa inteligente?
Viver numa casa inteligente é viver numa casa que é programada para se moldar à nossa presença, às diferentes fases do dia, aos diferentes estados do tempo. A par da programação, os sensores multifunções instalados em cada divisão vão dando informações à casa sobre como reagir à presença humana, sendo mesmo possível fazer comandos por voz e gestos, sem, portanto, qualquer contacto físico.
As vantagens de ter domótica em casa são muitas. Filigério Pantaleão, da Only, destaca a “segurança, o conforto, a eficiência energética e, depois, temos então o controlo da iluminação, climatização, som ambiente e central de segurança, tudo integrado na mesma plataforma”. Isto quer dizer que instalando uma só aplicação no telemóvel, é possível ter o controlo da casa na palma da mão.
Portanto, uma casa inteligente teria de ter a rega do jardim, a piscina, todos os pontos de luz, todas as janelas e todos os interruptores sob gestão. E são várias as tarefas do dia a dia que passam a ser automatizadas ou controladas, como:
Luzes acedem só quando há movimento;
Controlo de luzes, aquecimento, rega do jardim e climatização de acordo com cada estação do ano e à distância;
Recolher um toldo de forma automática quando o vento excede uma determinada velocidade;
Abrir portões e janelas à distância;
Abrir gavetas e ligar o exaustor da cozinha por comando de voz e gestos;
Acionar cenários programados, como de limpeza e cinema: a casa vai-se adaptar-se de forma automática ao cenário pretendido, trazendo mais conforto às famílias;
Simular a presença para garantir a segurança da casa (afastar potenciais intrusos), acendendo e apagando as luzes, ligando a televisão, mudando de canal.
“Tudo o que fazemos na domótica tem de estar à volta da questão: como é que eu vou poupar alguma coisa em energia? Ativando o modo “sozinho em casa”, por exemplo, o sistema não me deixa ligar luzes em mais que uma divisão”. Luís Pinto, um dos proprietários da IOline, a fabricante da tecnologia de domótica Mordomus
Investir em domótica em casa: por onde começar?
No caso da construção nova, “o mais importante que a própria domótica é uma boa escolha de localização de equipamentos, a tal ergonomia”, começa por explicar Luís Pinto. E, por isso, o ponto de partida é mesmo mostrar o potencial da casa como um todo às famílias, fazendo as perguntas certas:
Onde vão ser colocadas as televisões? Num local estratégico para que não reflitam as luzes e para não prejudicar a postura;
Onde é que devem ficar as luzes num quarto? As luzes devem ser colocadas onde, por exemplo, se estuda, brinca, maquilha e não no centro do quarto;
Onde vão ficar os quadros no corredor? Isto porque é melhor iluminar os quadros na lateral.
“Uma televisão bem colocada, uma luz bem colocada, um interruptor bem colocado não vende a nossa domótica, mas vende uma casa mais bem feita que é isso nos pretendemos”, admite Luís Pinto, que escolheu Gouveia, no Interior do país, para instalar a sua empresa tecnológica.
Se uma família quiser introduzir soluções de domótica numa habitação já existente, também é possível, por via de soluções sem fios ou de introdução de cabelagem na tubagem já existente. E não é necessário integrar todos os elementos de uma vez na domótica da casa. Tal como explica, Filigério Pantaleão, da Only, a domótica pode ser escalável e podemos fazer o investimento de forma gradual:
Substituir interruptores da luz convencionais por painéis de controlo;
Substituir o equipamento de subida e descida de estores;
Colocar uma central de segurança que fala a mesma linguagem da casa;
Introduzir dispositivos de som ambiente nas zonas de lazer;
Controlar ar condicionado ou outros equipamentos de ventilação.
“Se estivermos a falar de uma habitação que está a ser construída de raiz podemos fazer tudo, se estivermos a falar de uma habitação existente, temos que nos cingir aos pontos que já existem para controlar. Podemos fazer serviços extra, mas com cabelagem à vista e isso não fica bonito”, explica Filigério Pantaleão.
A integração total da domótica da casa é um ponto fundamental para o responsável pela tecnologia Mordomus: “A casa tem de ser inteligente ou não inteligente ponto, nunca meio termo, porque depois não sei de que lado iria gostar de viver na casa. Casota do cão, garagem, despensa, todas as divisões, porque só faz sentido quando está em todos os pontos. E aí entra o problema do preço – claro que encarece -, mas não pode encarecer mais que 2% da casa”, afirma.
Quanto custa investir em domótica?
Hoje em dia, “a domótica não pode ser nem é cara”, adverte Luís Pinto, da Mordomus. Mas nem sempre foi assim: quando chegou ao mercado, há mais de 20 anos, apresentou-se com preços “demasiado caros”, na ordem dos 20 mil euros. E, agora, desmitificar este legado é um desafio para o futuro do setor.
“Uma solução mais básica de domótica pode começar nos 1.800 euros e não tem limite máximo”, explica Hatto Fehst, CEO da empresa que controla a Only, uma tecnologia que surgiu no mercado em 2008. “Há pouco tempo fizemos um castelo no Dubai que é habitado só por duas pessoas e foi tudo feito à medida deles”, exemplifica. O preço das soluções de domótica “é muito relativo”, sublinha Filigério Pantaleão, apontando que o valor vai depender da área da casa e também do número de dispositivos a controlar (ar condicionado, piso radiante, estores, cortinas, eletrodomésticos, entre outros).
Admitindo que o acréscimo no preço da casa é “inevitável”, o responsável pela Mordomus refere que o preço da domótica terá de estar entre 1-2% do preço da casa. Ou seja, uma solução deverá custar entre 2 e 3 mil euros para uma casa de 100 ou 200 mil euros. E mesmo uma vivenda grande, hoje, não deverá custar mais do que 5 mil euros, garante. E é importante que haja uma evolução nos sistemas de domótica. “Qualquer produto nos dias de hoje deve ser evolutivo, a domótica tem de ser igual. E a família não deverá pagar mais por isso”, reforça ainda Luís Pinto.
Investir numa casa digital compensa?
A questão central prende-se com o seguinte: será que as soluções de domótica permitem que haja poupança no longo prazo? “Para ter eficiência energética, vamos primeiro medir os consumos que temos para depois perceber onde podemos poupar. E a iluminação é um fator – hoje em dia não tanto com a luz LED – , mas os aquecedores e a climatização são a maior preocupação”, diz Filigério Pantaleão.
Com a domótica é possível “criar regras para que determinados dispositivos só trabalhem determinadas horas, com isso conseguimos não ter altos picos de consumo de energia e distribuir as cargas ao longo do dia, porque nem tudo é necessário ao mesmo tempo”, explica ainda o responsável pelas vendas da Only. E com “os sensores colocados nas diversas divisões da casa não vai acontecer mais a luz ficar ligada por esquecimento”, acrescenta.
Esta gestão otimizada da casa vai permitir a poupança no longo prazo, pelo controlo ao detalhe dos consumos de energia e de água, acredita Luís Felício, broker e owner da Move, o grupo bracarense que está a desenvolver projetos de casas inteligentes no Norte do país. E conclui mesmo, em entrevista que “as casas inteligentes são um investimento rentável a curto-médio prazo”.
Embora admitindo que o investimento em domótica deve ser focado na eficiência energética e que “tem de ser um lucro e nunca um prejuízo”, Luís Pinto, da Mordomus, admite que é muito difícil avaliar quanto se pode poupar. Isto porque, no seu entender, uma “poupança só é real quando conseguirmos fazer a conta do que gastámos e o que recuperámos, o Return Of Investment (ROI)”.
Como vai evoluir a introdução da domótica nas casas dos portugueses?
As soluções de domótica existem no mercado português há mais de 20 anos.
Mas ainda são poucas as famílias que têm casas inteligentes. “Em Portugal, quase nada está feito. Na generalidade do parque habitacional não há [a preocupação em aderir à domótica]”, explica Alfredo Valente. E Hatto Fehst, da Only, acrescenta que temos tecnologia nas nossas casas com mais de 100 anos, como é o caso dos interruptores, o que é “inaceitável”.
Isto acontece por várias razões, segundo aponta o CEO da iad:
Há uma “escassez tremenda” de construção nova, que pode levar a que “a penetração de novidades tecnológicas demore muito”;
Na “reabitação de imobiliário antigo é muito difícil levar a experiência da robotização e domótica até ao limite”;
“Pressão sobre os preços das casas pode levar a que as pessoas tenham de deixar alguma coisa de lado e aí o que poderá ficar de parte poderá ser mesmo a inovação e a tecnologia”.
Hoje, só há apenas 1-2% de casas inteligentes em Portugal, admite Luís Pinto. “E se formos a filtrar as casas minimamente automáticas estaremos a falar de menos de 1%. E mais grave do que ser menos de 1% é que são casas demasiadamente ricas, o que quer dizer que só aquela elite lá em cima é que investe”, refere ainda o responsável pela Mordomus. E como será no futuro? “Daqui a 50 anos em vez de haver só 1-2% de casas inteligentes é possível que haja 10% e porque serão casas novas”, prevê ainda.
E será que o custo da domótica justifica a falta de adesão? “Hoje a tecnologia não é assim tão cara – o preço base de instalação simples é de 1.800 euros. E é mais vantajoso do que as soluções convencionais e compensa no longo prazo”, defende o responsável da tecnologia Only.
Mas para alcançar este patamar há muito a fazer. Desde logo ultrapassar todos os desafios que o setor da domótica atravessa hoje – e que são passados a pente fino neste artigo – que se resumem no reposicionamento no mercado, numa maior abertura dos promotores imobiliários, na evolução do próprio setor imobiliário, na formação dos profissionais, na mudança de legislação e na divulgação das vantagens e preços das atuais soluções de domótica às famílias.
No passado dia 21 de março comemorou-se o Dia Mundial da Árvore para assinalar a sua importância nas nossas vidas e no planeta. Embora a relevância das árvores enquanto sumidouros de dióxido de carbono, entre outros serviços ecossistémicos que presta, tenha tudo um grande crescimento mediático nas últimas décadas, a consciência sobre a sua importância é secular, uma vez que a celebração do “Dia da Árvore” remonta a finais do século XIX. No entanto, de uma forma menos espectacular, mas com um sentimento que seguramente não é inferior ao atual, os povos mais antigos tinham perfeita consciência da importância das árvores para a sua sobrevivência. Destaco um conhecido provérbio indígena que refere que “somente quando for cortada a última árvore, pescado o último peixe, poluído o último rio, as pessoas perceberão que não podem comer dinheiro”.
No Dia Mundial da Árvore são várias as iniciativas que assinalam este dia. Uma das actividades mais comuns é a da plantação de uma árvore – em março de 2021, neste mesmo espaço, escrevi um artigo que alertava para a responsabilidade de quem planta uma árvore, que não se esgota no ato de a plantar. A selecção da espécie arbórea e a escolha do local onde a árvore será plantada é fundamental para evitar que, após atingir a idade adulta, a árvore, que com tão boas intenções foi plantada, tenha de ser cortada por se tornar um transtorno físico ou um fator de risco. Uma das razões que pode levar a esta situação indesejada é a de uma árvore plantada perto de um edifício, após crescimento, poder contribuir para a exposição da construção a incêndios florestais.
Entre outras imposições, a legislação nacional obriga a que a separação mínima entre a copa das árvores e as construções seja de 5 m. O afastamento entre as árvores e os edifícios faz sentido porque a eventual ignificação, total ou parcial, das árvores poderia conduzir o fogo ao edifício, tanto por propagação direta das chamas, como através da projecção de partículas incandescentes tal como folhas. Por outro lado, a proximidade das árvores às casas conduz frequentemente a problemas relacionados com a limpeza dos tralhados, que são a componente construtiva por onde normalmente a primeira ignição se verifica.
No âmbito do projeto nacional com financiamento pela Fundação para a Ciência e Tecnologia – o Projeto House Refuge (www.adai.pt/houserefuge) – a ADAI tem vindo a realizar diversos ensaios laboratoriais que pretendem perceber quais as espécies arbóreas típicas dos jardins portugueses que apresentam maior inflamabilidade e maior tendência para libertar fagulhas, expondo uma casa na proximidade a uma maior probabilidade de ignição em caso de incêndio rural.
De entre 15 espécies analisadas, a figueira foi aquela que apresentou maior dificuldade em arder e de libertar fagulhas.
À figueira, seguiram-se, e por ordem: abrunheiro, medronheiro, macieira, tileira, cerejeira, nespereira, azevinho, oliveira e loureiro. A existência de árvores com menor inflamabilidade na proximidade das construções protege a construção relativamente aos incêndios rurais, funcionando como um obstáculo à transferência de calor e à chuva de fagulhas provenientes de uma eventual frente de chamas nas imediações. Assim, desde que colocada à distância regulamentar, i.e., 5 m da construção, a existência de árvores de baixa inflamabilidade junto às habitações acaba por ter um efeito positivo na proteção dos edifícios contra incêndios rurais, para além dos outros benefícios, como o ensombramento ou a produção de frutos. Com um efeito contrário, árvores como o loureiro deveriam encontrar-se a uma distância da casa muito superior àquela exigida pela legislação nacional – os nossos estudos indicam que a separação entre o edifício e um loureiro adulto não deveria ser inferior a 43 m. Refira-se ainda que, quanto maior for o stress hídrico da árvore, maior é a sua inflamabilidade, pelo que a rega da vegetação na envolvente dos edifícios assume grande importância, sobretudo na época mais crítica de incêndios.
Assim, quando plantar uma árvore nas imediações de uma casa, invista algum tempo na fase de planeamento, selecionando a espécie mais favorável e escolhendo a melhor localização, tendo em consideração a sua dimensão quando adulta. No século XVI, o Monge Agostiniano Martinho Lutero, disse: “Se soubesse que o mundo acabava amanhã, hoje plantaria uma árvore”. Eu acrescentaria “…plantaria uma árvore, depois de escolher a espécie certa e o local adequado”.
Miguel Almeida – Investigador Sénior da ADAI, in Diário As Beiras (24-03-2022)