Do negócio digital às casas inteligentes: o que muda no imobiliário?

Moradias Figueira da Foz

Casas digitais são mais confortáveis, eficientes, seguras. E quanto custam? O idealista/news foi descobrir junto de especialistas.

O futuro (e já o presente) é digital. A indústria 4.0 está aí e assiste-se à evolução gritante da digitalização nas mais diversas áreas de negócio: das telecomunicações ao ramo automóvel. E como é que o imobiliário está a abraçar esta revolução digital? Nos negócios, há avanços a olhos vistos na forma como as casas chegam às famílias, e como se procuram as casas, mas ainda estamos longe de alcançar uma transação imobiliária 100% digital em Portugal. E na casa tudo muda: as casas tornam-se inteligentes, mais eficientes, confortáveis e seguras. O imobiliário já abriu a porta à digitalização, uma tendência que acelerou ainda mais durante a pandemia. Há, no entanto, um longo caminho ainda a percorrer, cheio de desafios. O idealista/news foi descobrir o que está, hoje, a mudar nas casas e nos negócios imobiliários junto de profissionais do setor.

A digitalização da compra e venda de casas

Durante a pandemia tanto os profissionais como as famílias viram-se confinados em casa e os negócios imobiliários tiveram de se reinventar. E aqui a tecnologia teve um papel determinante. “Com a pandemia assistimos a uma maior utilização dos meios digitais no imobiliário, um setor onde a tecnologia já não será apenas uma necessidade, mas uma obrigação”, começa por destacar João Braz, head of idealista/data Portugal.

O mercado imobiliário “viu, de facto, as pessoas com menos apetência por visitas desnecessárias, portanto, a componente visita virtual, o 3D e todos os suportes media conheceram uma evolução muito significativa” durante os últimos dois anos, confirma Alfredo Valente, CEO e diretor geral da mediadora imobiliária iad Portugal.

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A verdade é que a aceleração da digitalização do imobiliário “teve impacto nas várias fases da mediação imobiliária, desde o processo de angariação até à divulgação de imóveis” junto dos potenciais compradores, indica João Braz. Mas ainda há um longo caminho a percorrer. No entender de Alfredo Valente, “ainda não conseguimos digitalizar toda a experiência do cliente do início ao fim”. Isto porque “continuamos a ter que assinar imensos papéis, continuamos a ter de nos dirigir a imensas instituições públicas para pedir documentação. E essa é a experiência digital que importa ainda fazer: é desmaterializar totalmente a experiência do cliente”, reforça o CEO da iad Portugal em entrevista.

“A pandemia e o cenário atual de constantes mudanças vieram também reforçar a importância no setor imobiliário da análise de dados do mercado em tempo real, com vista a detetar tendências de mercado e oportunidades de negócio”, João Braz, head of idealista/data Portugal

Embora já seja possível assinar escrituras da casa online – com a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 126/2021 a 4 de abril deste ano -, Alfredo Valente considera que ficou esquecido um passo prévio que passa por “permitir às pessoas assinar com conforto um contrato de mediação imobiliária”. Isto porque, hoje, a “lei da mediação imobiliária em Portugal obriga os clientes a assinar, uma assinatura qualificada. O que é isto implica? Ou uma chave móvel digital ou um certificado digital ou um ‘token’, o que inibe a maior parte das pessoas de aceder à assinatura digital”, explica em entrevista ao idealista/news. Portanto, um dos primeiros passos a dar para digitalizar a transação imobiliária passaria, desde logo, por “alterar a lei da mediação imobiliária por forma a que o contrato possa ser assinado digitalmente com uma assinatura simples”, acredita.

“Estamos, portanto, muito longe de digitalizar a transação imobiliária em Portugal”, considera Alfredo Valente, que admite mesmo que há uma fase do processo que não pode mesmo ser substituída, sobretudo, se se tratar da compra de uma habitação para uso próprio. “Acho que a tecnologia está sempre para servir a fluidez do negócio, mas não substitui o momento quase emocional em que passamos a porta daquela que há de ser a nossa casa”.

Casas na Figueira da Foz
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Falar da fase final de uma transação imobiliária puramente digital passará necessariamente pelo pagamento da casa em criptomoedas, algo que se tem assistido no mercado português – até há pouco tempo – por via da conversão destas moedas digitais em euros. Mas também aqui já houve desenvolvimentos recentemente: com o novo regulamento da Ordem dos Notários passará a ser possível comprar e vender imóveis unicamente em moedas virtuais, tratando-se este como um negócio de permuta, isto é, onde há troca de bens por criptomoedas.

As casas inteligentes: solução do presente e do futuro

A par do negócio imobiliário, também a própria casa está cada vez mais digital.

As soluções de domótica existem no mercado residencial e têm o poder de adaptar as casas ao ‘modus vivendi’ de cada um, trazendo mais conforto, eficiência e segurança para as famílias. Mas como? “Com domótica tenho de chegar a casa e mandar em tudo: tenho de ser dono da televisão, da rega, de absolutamente tudo o que está na casa”, resume Luís Pinto, um dos proprietários da IOLine, a fabricante portuguesa da tecnologia de domótica Mordomus que está há 20 anos no mercado.

“A domótica serve para fazer a automatização de todas as funções que uma pessoa tem de fazer manualmente em casa”, como ligar a luz, abrir os estores, ligar o ar condicionado, regar, servir café, fazer a lista de compras do supermercado…, detalha Hatto Fehst, CEO da Enancer Electónica, a empresa portuguesa (sediada em Braga) detentora da tecnologia Only – Smart Buildings. Tudo isto e muito mais pode ser programado e ser realizado automaticamente em casa. E “isso faz a casa servir o dono e não o dono servir a casa”, sublinha o responsável em entrevista.

Todos estes aspetos saíram valorizados durante a pandemia, num cenário em que a casa passou a ser o centro de tudo. Luís Pinto, da Mordomus, assume que a procura das famílias por estas soluções de domótica “cresceu drasticamente na pandemia”. E também Filigério Pantaleão, Sales Department & Field Applications Engineer na Enancer Electrónica, conta que há cada vez mais pessoas a procurar solução de domótica Only. “Há gadgets que empurram as pessoas a procurar a integração de todos os aparelhos de forma estruturada. Mesmo os assistentes de voz também são um motivo para as pessoas procurarem a automação”, justifica o profissional.

E, agora, com a crise energética que atravessamos, a sua importância deverá ser ainda mais reforçada. “A necessidade de as pessoas tornarem as casas mais eficientes e mais confortáveis – isto é , aliar o máximo de conforto ao mínimo consumo e gasto – e todo o espetro de possibilidades que o 5G nos traz, acho que vai pôr o assunto da automatização, da robotização, da domótica em cima da mesa nos próximos tempos”, acredita o CEO da iad Portugal.

Como é viver numa casa inteligente?

Viver numa casa inteligente é viver numa casa que é programada para se moldar à nossa presença, às diferentes fases do dia, aos diferentes estados do tempo. A par da programação, os sensores multifunções instalados em cada divisão vão dando informações à casa sobre como reagir à presença humana, sendo mesmo possível fazer comandos por voz e gestos, sem, portanto, qualquer contacto físico.

As vantagens de ter domótica em casa são muitas. Filigério Pantaleão, da Only, destaca a “segurança, o conforto, a eficiência energética e, depois, temos então o controlo da iluminação, climatização, som ambiente e central de segurança, tudo integrado na mesma plataforma”. Isto quer dizer que instalando uma só aplicação no telemóvel, é possível ter o controlo da casa na palma da mão.

Portanto, uma casa inteligente teria de ter a rega do jardim, a piscina, todos os pontos de luz, todas as janelas e todos os interruptores sob gestão. E são várias as tarefas do dia a dia que passam a ser automatizadas ou controladas, como:

  • Luzes acedem só quando há movimento;

 

  • Controlo de luzes, aquecimento, rega do jardim e climatização de acordo com cada estação do ano e à distância;

 

  • Recolher um toldo de forma automática quando o vento excede uma determinada velocidade;

 

  • Abrir portões e janelas à distância;

 

  • Abrir gavetas e ligar o exaustor da cozinha por comando de voz e gestos;

 

  • Acionar cenários programados, como de limpeza e cinema: a casa vai-se adaptar-se de forma automática ao cenário pretendido, trazendo mais conforto às famílias;

 

  • Simular a presença para garantir a segurança da casa (afastar potenciais intrusos), acendendo e apagando as luzes, ligando a televisão, mudando de canal.

 

“Tudo o que fazemos na domótica tem de estar à volta da questão: como é que eu vou poupar alguma coisa em energia? Ativando o modo “sozinho em casa”, por exemplo, o sistema não me deixa ligar luzes em mais que uma divisão”. Luís Pinto, um dos proprietários da IOline, a fabricante da tecnologia de domótica Mordomus

Investir em domótica em casa: por onde começar?

No caso da construção nova, “o mais importante que a própria domótica é uma boa escolha de localização de equipamentos, a tal ergonomia”, começa por explicar Luís Pinto. E, por isso, o ponto de partida é mesmo mostrar o potencial da casa como um todo às famílias, fazendo as perguntas certas:

  • Onde vão ser colocadas as televisões? Num local estratégico para que não reflitam as luzes e para não prejudicar a postura;

 

  • Onde é que devem ficar as luzes num quarto? As luzes devem ser colocadas onde, por exemplo, se estuda, brinca, maquilha e não no centro do quarto;

 

  • Onde vão ficar os quadros no corredor? Isto porque é melhor iluminar os quadros na lateral.

 

“Uma televisão bem colocada, uma luz bem colocada, um interruptor bem colocado não vende a nossa domótica, mas vende uma casa mais bem feita que é isso nos pretendemos”, admite Luís Pinto, que escolheu Gouveia, no Interior do país, para instalar a sua empresa tecnológica.

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Se uma família quiser introduzir soluções de domótica numa habitação já existente, também é possível, por via de soluções sem fios ou de introdução de cabelagem na tubagem já existente. E não é necessário integrar todos os elementos de uma vez na domótica da casa. Tal como explica, Filigério Pantaleão, da Only, a domótica pode ser escalável e podemos fazer o investimento de forma gradual:

  • Substituir interruptores da luz convencionais por painéis de controlo;

 

  • Substituir o equipamento de subida e descida de estores;

 

  • Colocar uma central de segurança que fala a mesma linguagem da casa;

 

  • Introduzir dispositivos de som ambiente nas zonas de lazer;

 

  • Controlar ar condicionado ou outros equipamentos de ventilação.

 

“Se estivermos a falar de uma habitação que está a ser construída de raiz podemos fazer tudo, se estivermos a falar de uma habitação existente, temos que nos cingir aos pontos que já existem para controlar. Podemos fazer serviços extra, mas com cabelagem à vista e isso não fica bonito”, explica Filigério Pantaleão.

A integração total da domótica da casa é um ponto fundamental para o responsável pela tecnologia Mordomus: “A casa tem de ser inteligente ou não inteligente ponto, nunca meio termo, porque depois não sei de que lado iria gostar de viver na casa. Casota do cão, garagem, despensa, todas as divisões, porque só faz sentido quando está em todos os pontos. E aí entra o problema do preço – claro que encarece -, mas não pode encarecer mais que 2% da casa”, afirma.

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Only – Smart Buildings

Quanto custa investir em domótica?

Hoje em dia, “a domótica não pode ser nem é cara”, adverte Luís Pinto, da Mordomus. Mas nem sempre foi assim: quando chegou ao mercado, há mais de 20 anos, apresentou-se com preços “demasiado caros”, na ordem dos 20 mil euros. E, agora, desmitificar este legado é um desafio para o futuro do setor.

“Uma solução mais básica de domótica pode começar nos 1.800 euros e não tem limite máximo”, explica Hatto Fehst, CEO da empresa que controla a Only, uma tecnologia que surgiu no mercado em 2008. “Há pouco tempo fizemos um castelo no Dubai que é habitado só por duas pessoas e foi tudo feito à medida deles”, exemplifica. O preço das soluções de domótica “é muito relativo”, sublinha Filigério Pantaleão, apontando que o valor vai depender da área da casa e também do número de dispositivos a controlar (ar condicionado, piso radiante, estores, cortinas, eletrodomésticos, entre outros).

Admitindo que o acréscimo no preço da casa é “inevitável”, o responsável pela Mordomus refere que o preço da domótica terá de estar entre 1-2% do preço da casa. Ou seja, uma solução deverá custar entre 2 e 3 mil euros para uma casa de 100 ou 200 mil euros. E mesmo uma vivenda grande, hoje, não deverá custar mais do que 5 mil euros, garante. E é importante que haja uma evolução nos sistemas de domótica. “Qualquer produto nos dias de hoje deve ser evolutivo, a domótica tem de ser igual. E a família não deverá pagar mais por isso”, reforça ainda Luís Pinto.

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Investir numa casa digital compensa?

A questão central prende-se com o seguinte: será que as soluções de domótica permitem que haja poupança no longo prazo? “Para ter eficiência energética, vamos primeiro medir os consumos que temos para depois perceber onde podemos poupar. E a iluminação é um fator – hoje em dia não tanto com a luz LED – , mas os aquecedores e a climatização são a maior preocupação”, diz Filigério Pantaleão.

Com a domótica é possível “criar regras para que determinados dispositivos só trabalhem determinadas horas, com isso conseguimos não ter altos picos de consumo de energia e distribuir as cargas ao longo do dia, porque nem tudo é necessário ao mesmo tempo”, explica ainda o responsável pelas vendas da Only. E com “os sensores colocados nas diversas divisões da casa não vai acontecer mais a luz ficar ligada por esquecimento”, acrescenta.

Esta gestão otimizada da casa vai permitir a poupança no longo prazo, pelo controlo ao detalhe dos consumos de energia e de água, acredita Luís Felício, broker e owner da Move, o grupo bracarense que está a desenvolver projetos de casas inteligentes no Norte do país. E conclui mesmo, em entrevista que “as casas inteligentes são um investimento rentável a curto-médio prazo”.

Embora admitindo que o investimento em domótica deve ser focado na eficiência energética e que “tem de ser um lucro e nunca um prejuízo”, Luís Pinto, da Mordomus, admite que é muito difícil avaliar quanto se pode poupar. Isto porque, no seu entender, uma “poupança só é real quando conseguirmos fazer a conta do que gastámos e o que recuperámos, o Return Of Investment (ROI)”.

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Como vai evoluir a introdução da domótica nas casas dos portugueses?

As soluções de domótica existem no mercado português há mais de 20 anos.

Mas ainda são poucas as famílias que têm casas inteligentes. “Em Portugal, quase nada está feito. Na generalidade do parque habitacional não há [a preocupação em aderir à domótica]”, explica Alfredo Valente. E Hatto Fehst, da Only, acrescenta que temos tecnologia nas nossas casas com mais de 100 anos, como é o caso dos interruptores, o que é “inaceitável”.

Isto acontece por várias razões, segundo aponta o CEO da iad:

  • Há uma “escassez tremenda” de construção nova, que pode levar a que  “a penetração de novidades tecnológicas demore muito”;

 

  • Na “reabitação de imobiliário antigo é muito difícil levar a experiência da robotização e domótica até ao limite”;

 

  • “Pressão sobre os preços das casas pode levar a que as pessoas tenham de deixar alguma coisa de lado e aí o que poderá ficar de parte poderá ser mesmo a inovação e a tecnologia”.

 

Hoje, só há apenas 1-2% de casas inteligentes em Portugal, admite Luís Pinto. “E se formos a filtrar as casas minimamente automáticas estaremos a falar de menos de 1%. E mais grave do que ser menos de 1% é que são casas demasiadamente ricas, o que quer dizer que só aquela elite lá em cima é que investe”, refere ainda o responsável pela Mordomus. E como será no futuro? “Daqui a 50 anos em vez de haver só 1-2% de casas inteligentes é possível que haja 10% e porque serão casas novas”, prevê ainda.

E será que o custo da domótica justifica a falta de adesão? “Hoje a tecnologia não é assim tão cara – o preço base de instalação simples é de 1.800 euros. E é mais vantajoso do que as soluções convencionais e compensa no longo prazo”, defende o responsável da tecnologia Only.

Mas para alcançar este patamar há muito a fazer. Desde logo ultrapassar todos os desafios que o setor da domótica atravessa hoje – e que são passados a pente fino neste artigo – que se resumem no reposicionamento no mercado, numa maior abertura dos promotores imobiliários, na evolução do próprio setor imobiliário, na formação dos profissionais, na mudança de legislação e na divulgação das vantagens e preços das atuais soluções de domótica às famílias.

Fonte: Idealista, 22 Abril 2022.

Como evitar o “assassinato” de árvores

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No passado dia 21 de março comemorou-se o Dia Mundial da Árvore para assinalar a sua importância nas nossas vidas e no planeta. Embora a relevância das árvores enquanto sumidouros de dióxido de carbono, entre outros serviços ecossistémicos que presta, tenha tudo um grande crescimento mediático nas últimas décadas, a consciência sobre a sua importância é secular, uma vez que a celebração do “Dia da Árvore” remonta a finais do século XIX. No entanto, de uma forma menos espectacular, mas com um sentimento que seguramente não é inferior ao atual, os povos mais antigos tinham perfeita consciência da importância das árvores para a sua sobrevivência. Destaco um conhecido provérbio indígena que refere que “somente quando for cortada a última árvore, pescado o último peixe, poluído o último rio, as pessoas perceberão que não podem comer dinheiro”.

No Dia Mundial da Árvore são várias as iniciativas que assinalam este dia. Uma das actividades mais comuns é a da plantação de uma árvore – em março de 2021, neste mesmo espaço, escrevi um artigo que alertava para a responsabilidade de quem planta uma árvore, que não se esgota no ato de a plantar. A selecção da espécie arbórea e a escolha do local onde a árvore será plantada é fundamental para evitar que, após atingir a idade adulta, a árvore, que com tão boas intenções foi plantada, tenha de ser cortada por se tornar um transtorno físico ou um fator de risco. Uma das razões que pode levar a esta situação indesejada é a de uma árvore plantada perto de um edifício, após crescimento, poder contribuir para a exposição da construção a incêndios florestais.

Entre outras imposições, a legislação nacional obriga a que a separação mínima entre a copa das árvores e as construções seja de 5 m. O afastamento entre as árvores e os edifícios faz sentido porque a eventual ignificação, total ou parcial, das árvores poderia conduzir o fogo ao edifício, tanto por propagação direta das chamas, como através da projecção de partículas incandescentes tal como folhas. Por outro lado, a proximidade das árvores às casas conduz frequentemente a problemas relacionados com a limpeza dos tralhados, que são a componente construtiva por onde normalmente a primeira ignição se verifica.

No âmbito do projeto nacional com financiamento pela Fundação para a Ciência e Tecnologia – o Projeto House Refuge (www.adai.pt/houserefuge) – a ADAI tem vindo a realizar diversos ensaios laboratoriais que pretendem perceber quais as espécies arbóreas típicas dos jardins portugueses que apresentam maior inflamabilidade e maior tendência para libertar fagulhas, expondo uma casa na proximidade a uma maior probabilidade de ignição em caso de incêndio rural.

De entre 15 espécies analisadas, a figueira foi aquela que apresentou maior dificuldade em arder e de libertar fagulhas.

À figueira, seguiram-se, e por ordem: abrunheiro, medronheiro, macieira, tileira, cerejeira, nespereira, azevinho, oliveira e loureiro. A existência de árvores com menor inflamabilidade na proximidade das construções protege a construção relativamente aos incêndios rurais, funcionando como um obstáculo à transferência de calor e à chuva de fagulhas provenientes de uma eventual frente de chamas nas imediações. Assim, desde que colocada à distância regulamentar, i.e., 5 m da construção, a existência de árvores de baixa inflamabilidade junto às habitações acaba por ter um efeito positivo na proteção dos edifícios contra incêndios rurais, para além dos outros benefícios, como o ensombramento ou a produção de frutos. Com um efeito contrário, árvores como o loureiro deveriam encontrar-se a uma distância da casa muito superior àquela exigida pela legislação nacional – os nossos estudos indicam que a separação entre o edifício e um loureiro adulto não deveria ser inferior a 43 m. Refira-se ainda que, quanto maior for o stress hídrico da árvore, maior é a sua inflamabilidade, pelo que a rega da vegetação na envolvente dos edifícios assume grande importância, sobretudo na época mais crítica de incêndios.

Assim, quando plantar uma árvore nas imediações de uma casa, invista algum tempo na fase de planeamento, selecionando a espécie mais favorável e escolhendo a melhor localização, tendo em consideração a sua dimensão quando adulta. No século XVI, o Monge Agostiniano Martinho Lutero, disse: “Se soubesse que o mundo acabava amanhã, hoje plantaria uma árvore”. Eu acrescentaria “…plantaria uma árvore, depois de escolher a espécie certa e o local adequado”.

Miguel Almeida – Investigador Sénior da ADAI, in Diário As Beiras (24-03-2022)

Afinal quanto custa renovar um apartamento

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Entre mudar azulejos, pintar as paredes ou reforçar o isolamento, remodelar uma casa é necessário por vários motivos. Mas no geral, quanto custa renovar um apartamento?

O processo de renovação de uma casa acarreta responsabilidades e, por isso, surgem várias dúvidas, nomeadamente “quanto custa renovar um apartamento?”.

Antes de pores mãos à obra, importa perceber o que implica esta decisão e avaliar todos os custos associados a cada tipo de intervenção. Só assim é possível preparar um orçamento mais real e adaptado às necessidades.

Motivos pelos quais se deve remodelar?

São vários os motivos pelos quais se torna importante renovar um apartamento. Alguns estão apenas ligados à componente estética, mas outros são mesmo obrigatórios, quer por comprometer a saúde e bem-estar dos moradores quer por necessidade de valorização da habitação.

Estética e Conforto

Para muitas pessoas, a renovação de um apartamento fica-se pela componente estética. Afinal, o lar é o local mais íntimo de uma pessoa. E quem não gosta de ter uma casa que reflita a sua personalidade?

A par da estética entra também a componente de conforto. Uma casa quer-se confortável tanto para tornar o dia-a-dia dos moradores mais cómodo, quer para receber convidados e fazê-los sentir-se em casa.

Preparação para venda

Vários proprietários optam por renovar as suas habitações com o intuito de obter um retorno do investimento muito maior no momento da venda. Um apartamento renovado recentemente tem mais hipóteses de ser vendido mais rápido e por um preço muito mais elevado do que um apartamento sem qualquer intervenção. Simples renovações, como pintar paredes e tetos, valorizam significativamente uma casa na hora de a colocar no mercado.

Humidade, infiltrações e outros problemas

Com o passar dos anos, é natural que surjam alguns problemas em casa, desde infiltrações ou problemas de humidade. Azares acontecem e para evitar orçamentos muito elevados ou danos irreparáveis, o ideal é ir resolvendo estas situações aos poucos, com tempo.

Qualidade geral do apartamento

Fazer renovações nem sempre é sinónimo de problemas, como vimos. Muitas pessoas vão fazendo renovações às suas habitações ao longo dos anos para manter as mesmas atualizadas, isto é, para melhorar cada vez mais a sua qualidade. Um exemplo disso é transformar a casa numa smart home. Além de ajudar a impressionar os amigos e a família, esta intervenção torna a casa mais funcional, segura e amiga do orçamento familiar.

Quais os critérios que vão tornar a obra mais cara ou mais barata?

São vários os fatores que vão influenciar o custo total de uma renovação, desde o número, a dimensão e o tipo de divisões a alterar, os materiais que serão usados, a duração e as especificações da obra, entre outros critérios.

Número de divisões

Quanto mais divisões for necessário alterar, mais elevado será o orçamento total da renovação. Basta pensarmos que remodelar um apartamento por completo exige muito mais material, profissionais e um tempo de duração da obra superior quando comparado com uma renovação de apenas uma divisão.

Se o apartamento necessita de renovações em todas as divisões, mas o budget disponível para tal não é suficiente, o melhor a fazer é:

– Identificar as divisões em que as renovações são mais urgentes;

– Ir renovando uma ou duas divisões de cada vez, começando pelas mais prioritárias;

– Tentar negociar o valor das obras com a empresa contratada (pagar as alterações às prestações, alongar ou diminuir o prazo das obras, ajudar a renovar a própria habitação, etc.).

Dimensões das áreas

Muitas empresas calculam os custos com materiais e o preço da mão de obra por metro quadrado. Por isso, tal como o número de divisões, a dimensão de cada espaço vai influenciar o orçamento total da renovação.

A título de exemplo, se o objetivo for alterar o chão do apartamento, a compra do pavimento vai depender dos metros quadrados. Por isso, o valor varia consoante a área da habitação – quanto maior for a casa, mais pavimento, materiais, trabalhadores, acabamentos, horas de trabalho serão necessários.

Duração da obra

A expressão “tempo é dinheiro” aplica-se a tudo, especialmente quando se trata de renovar uma casa. Uma obra mais complexa, regra geral, vai exigir mais disponibilidade dos profissionais. E mais horas de trabalho traduzem-se num orçamento mais elevado.

Algumas empresas fazem a média às horas de trabalho total da obra solicitada e apresentam-lhe um orçamento global. Outras apresentam um valor fixo diário e cobram-lhe por cada dia de trabalho. Se conseguir negociar e contribuir com mão de obra, não só reduzes a duração da obra, como ainda poupa bastante dinheiro.

Qualidade dos materiais

Quando se questiona sobre quanto custa renovar um apartamento deve ter em atenção que a qualidade dos materiais vai influenciar significativamente o orçamento total da renovação.

Ao renovar uma cozinha, é necessário decidir se o tampo da bancada será em madeira ou pedra mármore, por exemplo. Se a escolha recair sobre opções em madeira, o orçamento será muito mais baixo do que ao escolher um tampo em pedra mármore ou Silestone.

Outros critérios

A par dos critérios abordados até agora, juntam-se ainda o número de trabalhadores necessários, o tipo e complexidade de remodelações (simples ou complexa, única ou geral, etc), o tipo de contrato celebrado com a empresa, coimas por incumprimento, entre outros fatores que deve prestar muita atenção antes de ser dado o “ok” para as obras arrancarem.

Quais as divisões mais dispendiosas no momento da renovação e porquê?

Algumas divisões tornam-se mais dispendiosas do que outras e encarecem o orçamento total das renovações. Tudo depende dos critérios que identificamos anteriormente (qualidade dos materiais, dimensão, etc.). Mas regra geral, estas são as divisões mais dispendiosas:

Cozinha

A renovação da cozinha é uma das que implica um maior investimento. Estamos a falar de uma divisão sujeita a infiltrações por existir um maior contacto com água (lava-louças, máquina de lavar loiça, etc.) e cujos eletrodomésticos são usados exaustivamente, desde o frigorífico ao forno ou ao fogão. Isto obriga a uma atenção redobrada no que diz respeito à qualidade, durabilidade e eficiência dos materiais e equipamentos escolhidos.

Entre a atualização da canalização, a alteração da disposição da divisão, a substituição dos móveis e dos eletrodomésticos e a modificação de paredes e pavimento, o orçamento pode ser facilmente superior a 10.000 €.

Este valor pode aumentar ou diminuir tendo em conta o tipo de tampo escolhido, a qualidade dos materiais, se a cozinha é pré-fabricada ou se é feita à medida, a dimensão da cozinha, entre outros fatores.

Apesar de o investimento ser muito mais elevado quando comparado com um quarto ou com o hall de entrada, a renovação de uma cozinha valoriza significativamente um imóvel. Em alguns casos, não só se recupera o investimento, como ainda confere uma margem de lucro muito positiva no momento da venda.

Sala de estar e jantar integradas

Ao contrário do que se possa pensar, as salas de estar e jantar integradas também entram no top 3 de divisões mais dispendiosas no momento de renovar um apartamento. Isto porque, na maioria dos casos, esta divisão é uma das maiores da casa e onde a família passa mais tempo e recebe os convidados. Por estas razões, exige um maior investimento em material e mobiliário, no conforto e na durabilidade dos materiais.

A renovação de uma sala pode incluir mudar os móveis, a decoração e o sofá, pintar paredes ou adicionar papel de parede, melhorar a iluminação, trocar a TV por uma mais atual ou maior. Além disso, pode ser ainda necessário aplicar um novo pavimento, instalar um recuperador de calor ou reforçar as janelas com persianas térmicas e vidro duplo, para tornar a sala mais confortável para serões em família e receber os convidados.

As necessidades de cada casa e de cada família é que vão mesmo fazer toda a diferença, mas, no total, estas alterações podem superar os 7.500 €.

Casas de banho

Seguindo a mesma lógica das cozinhas, um WC entra para o top 3 de divisões mais dispendiosas na hora de renovar um apartamento.

Os materiais e todo o mobiliário tem obrigatoriamente de ser resistente a água, humidade e condensação. Além disso, a instalação de todos os componentes deve garantir que não existe qualquer fuga de água ou infiltração, caso contrário, em pouco tempo será necessário voltar a reparar ou até renovar esta divisão.

Como diz o ditado “a qualidade paga-se”, por isso é que os valores de tudo o que uma casa de banho necessita são mais elevados. Entre renovar banheira ou base de duche, torneiras, chuveiro, móveis de casa de banho, lavatório, sanita, espelho, etc., o roçamento pode alcançar os 5.000 €.

Tal como a cozinha, os WCs são também uma das divisões mais valorizadas por potenciais compradores e investidores imobiliários. Por isso, se a ideia é vender a casa, pondera renovar esta divisão.

Quais os materiais que vão custar mais?

A qualidade, quantidade e durabilidade dos materiais têm um peso significativo no orçamento final. Entre os materiais mais caros, destacamos:

– Eletrodomésticos – especialmente os smart devices e com classe energética mais elevada tendem a ser mais dispendiosos.

– Pavimento – um pavimento flutuante mais básico ronda os 9 €/m2. A isto soma-se a aplicação, que pode rondar os 10 €/m2, os novos rodapés e o isolamento. Se falarmos de chão de madeira os preços são muito superiores.

– Janelas e claraboias – a substituição de todas as janelas por janelas PVC pode rondar os 2.500 €, já uma claraboia custa cerca de 1.200 €. Deve ter em atenção que este investimento inicial pode ser mais elevado, mas pode dar-lhe um retorno quase imediato se tiver em conta que melhora o isolamento térmico das divisões.

– Aquecimento – investir em soluções de aquecimento pode elevar o seu orçamento total. Além das janelas e do pavimento, pode revestir paredes, instalar um sistema de Ar Condicionado ou um recuperador de calor. Estes materiais, assim como a aplicação/instalação, apresentam custos mais elevados.

Afinal, quanto custa renovar um apartamento?

Decidimos pegar em dois exemplos práticos para descobrirmos quanto custa renovar um apartamento: um apartamento T1 e um apartamento T3 que necessitam de renovações totais (wc, cozinha, pintura, eletrodomésticos, chão, móveis, substituir janelas, etc.).

No primeiro caso, o valor de renovar totalmente um T1 pode rondar os 19.500 €:

– 1 WC pequeno: 3.500 €

– 1 Sala com 15m2: 5.000 €

– 1 cozinha pré-fabricada com materiais de qualidade média: 8.000 €

– Pintura, substituição de torneiras, instalação de pavimento flutuante, etc: 3.000 €

Já um T3 com as mesmas remodelações, acrescendo a isto o número de divisões e a dimensão das áreas, o orçamento pode chegar aos 40.000 €.

Os valores apresentados são meramente ilustrativos e baseados nos valores médios do mercado, mas já lhe permitem criar um orçamento mais real para as renovações que desejas fazer.

Abril em Portugal

Imobiliária Figueira da Foz

Em 1939 um militar compôs uma canção, que durante anos ficou esquecida numa gaveta, intitulada “Coimbra”.

Em Coimbra, três décadas volvidas (a 17 de Abril de 1969), assistiu-se a um ousado desafio de jovens universitários à mais velha Ditadura da Europa.

Ditadura essa derrubada passados cinco anos (a 25 de Abril de 1974) por um movimento de militares.

Três factos muito diversos, mas relacionados – como passo a explicar.

Raúl Ferrão abraçou a carreira militar com apenas 17 anos (em 1907), licenciou-se em Engenharia Química, combateu em África na I Guerra Mundial. Mas o seu nome ficou ligado, sobretudo, à música. Foi um dos mais prolíficos compositores portugueses e entre as muitas dezenas de canções de sua autoria, “Coimbra” é a mais famosa. Só viria a pública em 1947, no filme “Capas Negras”, com letra de José Galhardo e interpretada por Alberto Ribeiro. Contudo, foi em 1952 que conquistou o País e o Mundo, quando Amália Rodrigues começou a cantá-la com a designação de “Abril em Portugal”.

Ora foi num mês de Abril, em 1969, que a velha Ditadura salazarista (então já liderada por Marcelo Caetano) enfrentou a maior das suas afrontas, exactamente em Coimbra e na Universidade que “deu” Salazar ao País. Foi no dia 17 desse mês, quando centenas de estudantes ousaram manifestar-se contra o regime durante a cerimónia em que o então Presidente da República, Américo Tomás, presidiu à inauguração do Departamento de Matemática. Nunca alguém se atrevera a criticar assim, face a face, “o venerando Chefe de Estado” (tratamento dado ao velho almirante).

Um atrevimento que foi severamente punido, com dezenas de dirigentes estudantis a serem presos pela polícia política, impedidos de prosseguir os seus estudos e, em vez disso, coercivamente incorporados no Exército e espalhados por diversos quartéis de todo o País, antes de serem enviados para a Guerra Colonial.

Com isso, mais do que “um tiro no pé”, o regime atingiu-se a si próprio com uma “rajada de politização” nas Forças Armadas que lhes serviam de esteio. De facto, os jovens dirigentes estudantis disseminados pelos quartéis, estavam, na sua maioria, ligados a grupos oposicionistas clandestinos, tendo, por isso, formação e informação política com que foram “contaminando” os militares do quadro.

Esse trabalho de sensibilização e de esclarecimento viria contribuir para o chamado “Movimento dos Capitães” que, cinco anos volvidos, também em Abril, teve a coragem de, arriscando o futuro e a própria vida, pôr em marcha “a Revolução dos Cravos”. Por ironia, essa Revolução derrubou um regime implantado também por um golpe militar, em 1926, que à Universidade de Coimbra fora buscar Salazar, dando origem ao auto-intitulado Estado Novo e que viria a ser a mais velha Ditadura da Europa, inspirada no nazi-fascismo alemão, com réplicas assumidas – como, por exemplo, a Mocidade Portuguesa, que era uma cópia da Juventude Hitleriana, ou a Legião Portuguesa. Mas também a proibição dos partidos políticos, a violenta polícia política (que teve várias designações, mas ficou conhecida como PIDE), que se infiltrava em todos os sectores da sociedade, prendendo quem se atrevesse a fazer qualquer crítica, expulsando das Universidades alguns dos seus mais brilhantes professores, torturando milhares de oposicionistas que passaram pelas suas prisões; chegando mesmo a assassinar políticos incómodos (como sucedeu com o general Humberto Delgado).

Só quem viveu esses tempos pode avaliar, de forma objectiva, as extraordinárias mudanças que se operaram no nosso País, até então “orgulhosamente só” (como Salazar gostava de referir), com um povo oprimido e mergulhado na miséria, na ignorância, na privação dos mais elementares direitos, liberdades e garantias, enlutado pela morte de milhares dos seus jovens obrigados a combater nas três frentes (Angola, Moçambique e Guiné) de uma Guerra Colonial que se prolongou por 13 anos.

Hoje continua a haver algumas injustiças e desigualdades.

Mas não há gente descalça, andrajosa e esfomeada pelas ruas das cidades e vilas e pelos caminhos enlameados das aldeias. Não há o fantasma da guerra que pesou sobre todos os jovens portugueses e suas famílias durante tantos anos. Não há o analfabetismo e o trabalho quase escravo. E tantos outros aspectos que os mais jovens desconhecem e grande parte dos mais velhos já esqueceu…

Em contrapartida há um bem supremo, a que só se dá o justo valor quando ele não existe.

É aquele que me consente dizer o que penso e me permite escrever, neste texto, o que sinto.

Chama-se liberdade!

E deve-se ao Abril em Portugal – desencadeado por uma outra canção (“Grândola, vila morena”) da autoria de Zeca Afonso, um dos mais marcantes vultos da música portuguesa e antigo estudante de Coimbra…

Jorge Castilho – Presidente da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra, in Diário As Beiras (27-04-2022)

Liberdade e Acaso

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Abril, T.S. Eliot, nem sempre é o mais cruel dos meses. Por, de quando em quando, ter um vigésimo quinto dia de madrugadas claras e límpidas, de flores rubras na boca dos blindados, de poesia espalhada pelas ruas.

Não nascemos livres. Nem iguais. Somos o precipitado concreto de raízes biológicas antediluvianas. Somos o corpo que somos, com privativas singularidades e determinadas biogenéticas. Temos reduzida capacidade de escolha ética. O Bem e o Mal são puras inscrições bio-neuronais. E, fiéis seguidores de S. Darwin, sabemos que o “vale tudo” do Mal é o comportamento adaptativo ideal. O liso caminho do sucesso pessoal, económico, político e social.

Daí a nossa adoração, ainda que inconfessada e secreta, aos ídolos pagãos de sempre: conquistadores de impérios, capitães da indústria, senhores do grande capital, divindades desportivas e futilidades do entretenimento.

Daí o fracasso da utopia cristã e o eclipse do messianismo marxista, varridos pela frieza implacável de um capitalismo que, em sintonia fina com a marca darwinista da natureza humana, vinga triunfal em qualquer terreno ideológico e político – seja nas democracias liberais ocidentais, seja na totalitária China.

Nascemos, vivemos e morremos no nosso tempo e no nosso espaço. Neste século, neste lugar, nesta família, nesta comunidade. E assim nos transformamos no que não podemos deixar de ser. “Pode alguém ser quem não é?” pergunta há muito, e com plena razão, Sérgio Godinho.

Não sabemos, nem nunca poderemos saber, o Fim da História. A profecia marxista da idílica Jerusalém terrestre, lugar sem classes liberto de opressores e oprimidos, tem, tão só, um valor de crença. O mesmo se diga da profecia liberal-individualista: aí temos, perante os nossos olhos, democracias a morrer, ditaduras a ressuscitar, protecionismos económicos a regressar.

Vivemos nos caos e no acaso. Somos caos e acaso.

Caso e acaso que, de quando em quando, fazem com que abril seja o mais suave e doce dos meses.

Manuel Castelo Branco – Docente do ISCAC, in Diário As Beiras (23-04-2022)

A guerra, os combustíveis e a mobilidade sustentável

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No mundo atual, os acontecimentos têm um impacto cada vez mais global. Foi assim com a covid-19, que se tornou uma pandemia. É também o caso da guerra na Ucrânia. Em primeiro lugar e acima de tudo, está a provocar um sofrimento indescritível ao povo ucraniano, que vê o seu país e o seu modo de vida ser atacado e destruído.

Depois e de uma forma indirecta, começam já a sentir-se efeitos negativos um pouco por todo o mundo – o mais imediato e visível é a subida dos preços da energia e, em particular, dos combustíveis.

Notando que a pandemia da covid-19 nos obrigou a acelerar a transição digital poderá perguntar-se: será que esta guerra e a consequente subida do preço dos combustíveis nos fará acelerar a transição do paradigma da mobilidade assente nos combustíveis fósseis (gasóleo e gasolina), para uma mobilidade mais sustentável e mais ativa?

A este propósito, valerá a pena analisar a mudança que teve lugar nos Países Baixos a partir da década de 70 do século passado. Como é que os Países Baixos se tornaram no “país das bicicletas”?

Antes de mais e para enquadramento, salienta-se que a percentagem de população que possui automóvel não é expressivamente mais baixa do que nos restantes países europeus, nomeadamente nos seus vizinhos. Acontece que os holandeses usam o carro de forma diferente.

Para entender esta história de mudança, nada melhor do que a imagem apresentada, que retrata a Rua Haarlemmerdijk, em Amesterdão, ao longo dos tempos (1900, 1971 e 2013).

Historicamente, as ruas sempre foram um local para as pessoas – cafés e lojas abertas para a rua, com esplanadas e bancas no exterior, promovendo a convivência, o comércio, e o lazer. Em 1990, era assim na Rua Haarlemmerdijk. Nota: as diferentes ruas cumprem diferentes funções; por isso, os urbanistas e engenheiros de tráfego classificam-nas como artérias ou distribuidoras principais se a função prevalecente é a de circulação, ou como ruas de acesso local que se dedicam a permitir o acesso aos edifícios e o usufruto do espaço público.

Com o crescimento económico do pós-guerra e um grande desenvolvimento da indústria automóvel, cada vez mais passaram a ter a vontade e a capacidade financeira para adquirir um carro. Assim, todas as ruas, independentemente da sua função, se encheram rapidamente de automóveis. Como estes veículos ocupavam muito mais espaço do que estava disponível, as ruas existentes foram sendo reformuladas para facilitar o fluxo e o estacionamento automóvel e muitas novas vias foram construídas. Foi assim nos Países Baixos, também em Portugal, mas algumas décadas mais tarde, e um pouco por todo o mundo. Em 1971, este era o contexto na rua Haarlemmerdijk.

Na década de 70, dois tipos de eventos vieram alterar a situação e levaram a uma transição para o que conhecemos hoje – “o país das bicicletas”. Em 1973, dá-se a primeira crise do petróleo, que levou a que o seu preço praticamente quadruplicasse. Em Portugal, nos últimos anos, o preço dos combustíveis tem vindo sucessivamente a sofrer pequenos aumentos.

Agora, com o efeito da guerra, o preço sobe consideravelmente semana após semana, havendo já previsões de que possa atingir os 3 euros por litro. Mais do que a instabilidade dos preços do petróleo, o que fez realmente mudar a situação nos Países Baixos foram os trágicos acidentes entre os pesados e velozes automóveis e as leves bicicletas, que as crianças continuavam a usar para se deslocar e para brincar. Gerou-se um movimento da sociedade contra a elevada mortalidade infantil e a exigir maior segurança.

O crescimento massivo desse movimento levou os decisores políticos a promover uma profunda reflexão sobre o modo de vida e de deslocação nas cidades. Depois de experiências iniciais, percebeu-se que era necessário criar uma rede de ciclovias completa, por toda a cidade, e integrada com outros modos de transporte – ou seja, em todas as ruas, e até através de parques e outros locais onde os carros não podem circular. Em conjunto com limitações à circulação automóvel no centro da cidade e em bairros residenciais (limitando a velocidade automóvel a 30 km/h, colocando passadeiras elevadas, e restringindo estacionamento, entre outros) foi possível transformar as ruas e as cidades novamente em espaços seguros e para as pessoas. Hoje em dia, é outra vez assim na rua Haarlemmerdijk.

Por último, saliento que uma mobilidade mais sustentável não implica começar a andar de bicicleta. Antes de mais, deve avaliar-se se viagens de curta distância (para ir ao café, ou à escola) poderão ser feitas a pé, em vez de carro. Depois, deve avaliar-se se é possível evitar certas deslocações (como ir almoçar a casa todos os dias). Com um pouco mais de ambição, na viagem diária casa-trabalho-casa, será possível substituir o carro por transportes públicos ou outro modo?

Fazer esta alteração em apenas um dia, dos cinco da semana de trabalho, corresponde a baixar 20% das emissões regulares! Cada um de nós tem o seu próprio contexto e rotinas individuais e familiares, por isso, terá de ser cada um a perceber como pode, de fato, tornar a sua mobilidade mais consciente e mais sustentável.

O preço dos combustíveis ajuda a esta reflexão!

João Bigotte – Docente de Inovação, Urbanismo e Transportes/FCTUC, in Diário As Beiras (16-03-2022)

Como se pode poupar para comprar uma casa?

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Sempre que se inicia um novo ano, com ele sentimos a necessidade de ter novos propósitos, motivações e ambições na nossa vida. Um desses propósitos é o sonho que a maioria das pessoas têm: comprar uma casa. No entanto, sabemos que é algo que não é assim tão fácil, já que isso pressupõe um grande investimento, e para tal é preciso dinheiro.

Obviamente que poupar para comprar uma casa, não é igual a poupar dinheiro para ir de viagem. Mas saiba que se deseja comprar casa, é possível alcançar esse objetivo poupando dinheiro… apenas é preciso mudar certas coisas, tal como reduzir os gastos, ser disciplinado, poupar e juntar dinheiro. Mas como?

Os primeiros passos para poupar dinheiro para comprar a sua casa

Se está disposto a poupar e a fixar um valor em dinheiro que não pode gastar, saiba que é extremamente importante que o faça. Nunca é fácil aconselhar um determinado valor que deve ser posto de parte, pois isso pode desmotivar, e sabemos que existem muitos gastos que para viver sem que nos falte nada… Para decidir quanto se deve poupar, acima de tudo devemos ser realistas, e saber até que ponto podemos fazer um esforço, sem esquecer que existem outros gastos obrigatórios e necessários e que não podemos ignorar.

Para saber qual a quantidade a poupar, verifique os preços aplicados pelas imobiliárias e que estão disponíveis nos seus portais. Assim, terá como base uma dupla informação: o dinheiro que deve conseguir e o tipo de casa que gostaria de comprar. Ter acesso a imagens dos imóveis pode oferecer uma motivação e confiança extra. Quem não gosta de se imaginar a viver numa nova casa?

Serve apenas como uma dica: enquanto visita os imóveis à venda, abra uma conta especial para colocar o dinheiro que vai conseguir poupar para este objetivo. Na verdade é uma boa forma de começar, já que até se habituar, é bom não ter acesso diário ao seu dinheiro, pois pode cair na tentação de o gastar.

Quer poupar para comprar uma casa? Reduza os gastos!

Se pretende que a sua conta bancária engorde, o melhor é começar a reduzir custos. Todos dias gastamos dinheiro em coisas que não fazem falta, e isso deve mudar. No que diz respeito a redução de gastos, e para que tenha mais consciência destes, deve anotá-los num papel e classificá-los mais ou menos assim:

  • Gastos muito importantes: aqueles que são mesmo obrigatórios, como as contas da água, luz e a do gás). E já que falamos nos serviços básicos, existem apoios que permitem reduzir custos e que são atribuidos em função dos rendimentos, como é o caso da tarifa social de energia e da tarifa social da água. Se tiver direito a este tipo de apoio, vai conseguir poupar mais dinheiro nestes serviços.

●       Gastos que são úteis: Aqueles que não sendo tão importantes como os anteriores, se podem manter, como o seguro de saúde, um serviço de tv net voz com todos os canais ou apenas o serviço de internet caso precise de aceder ao seu e-mail diariamente.

  • Gastos desnecessários: aqueles que apenas são caprichos e que passam bem sem eles.

 

Dica importante: Priorize sempre os gastos muito importantes, elimine os gastos desnecessários e reduza ou ajuste um pouco os gastos úteis.

Um dinheiro extra ajuda a poupar mais rápido

É claro que poupar dinheiro não é apenas possível ao reduzirmos custos. Fazer um esforço para não gastar dinheiro em vão, ajudará a que se junte mais, e a que chegue mais rápido ao seu objetivo. A sua conta bancária vai agradecer!

Todos nós temos as nossas formas de conseguir dinheiro extra. Vai depender da capacidade de cada um e claro, das possibilidades existentes. Se tem uma veia mais criativa e de comercial, vai conseguir obter um rendimento extra. Saiba como:

  • Venda tudo o que já não usa: roupas, móveis e eletrodomésticos.
  • Se conseguir uma ocupação que possa conciliar com o seu emprego, como dar explicações particulares ou fazer umas horas num refeitórios ou até passear animais de estimação, vai aumentar o seu rendimento.
  • Ser responsável pela gestão das redes sociais de empresas dos seus amigos ou familiares.
  • Pintar quadros, fazer doces e vender. Todas são ótimas opções!

Tudo é possível. Terá dias menos animadores, mas nunca desista, pois sempre surgem oportunidades para conseguir tirar partido disso.

Conforme foi dito, são apenas dicas e conselhos. Certamente existem outros que podem ser aplicados se considerar serem mais fáceis. A partir daqui, seja valente e realize o seu sonho de comprar uma casa contando com o apoio da Imoexpansão.

Comprar casa e colocá-la a arrendar, teve um rendimento 5,6% no primeiro trimestre.

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Rentabilidade deste negócio tem vindo a cair durante a pandemia, mostra o estudo do idealista. Onde é maior? E menor?

 

Comprar uma casa para colocá-la a arrendar tem vindo a ser uma opção para vários portugueses para ganhar um rendimento extra ao final do mês. E qual é a rentabilidade bruta deste negócio? Foi de 5,6% no primeiro trimestre de 2022, um valor 0,8 pontos percentuais (p.p) inferior à calculada para o mesmo período de 2021 (6,4%). Hoje, a rentabilidade na habitação também é inferior em 1,1 p.p em relação à observada no primeiro trimestre de 2020, de 6,8%. Segundo o estudo realizado pelo idealista, no pior dos casos, a rentabilidade obtida é quase três vezes superior às obrigações do Governo a 10 anos (1,6%).

E onde é mais rentável comprar casa e colocar esse imóvel no mercado de arrendamento em Portugal? Analisando os dados por capitais de distrito salta à vista que é em Santarém onde é mais rentável a compra de uma casa para investimento, sendo o seu retorno na ordem dos 7,8%. Seguem-se as cidades de Castelo Branco (7,7%), Ponta Delgada (6,7%), Leiria (6,2%), Coimbra (5,9%), Braga (5,7%) e Setúbal (5,7%).

Pelo contrário, a rentabilidade habitacional mais baixa é obtida pelos proprietários das casas arrendadas em Lisboa (3,2%), Porto (4,3%), Aveiro (4,5%), Faro (4,8%), Viseu (5,2%), Funchal (5,2%) e Viana do Castelo (5,6%).

Rentabilidade na habitação

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Rentabilidade de escritórios, lojas e garagens

 

Este estudo permitiu ainda analisar a rentabilidade de outros produtos imobiliários a nível nacional. Os escritórios permitem uma rentabilidade de 10,2%, as lojas de 9,2% e as garagens de 7,7%.

Para a realização deste estudo, o idealista dividiu o preço de venda pelo custo de arrendamento solicitado pelos proprietários nos diferentes mercados no primeiro trimestre de 2022. O resultado obtido é a percentagem bruta da rentabilidade que proporciona o arrendamento de uma casa ao seu proprietário. Estes dados permitem a análise do estado atual do mercado e são um ponto de partida básico para todos os investidores que pretendam comprar ativos imobiliários para obter rendimento.

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Fonte: Idealista, 13 Abril 2022.

IMI – Uma história de sucesso?

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A distorção resultante da falta de atualização das variáveis que definem a base tributável do IMI potencia desigualdades e prejudica a perceção pública sobre a legitimidade do imposto.

 

Temos de compreender que na sociedade atual a função de financiamento do Estado através dos impostos constitui um valor fundamental para assegurar infraestruturas e serviços fundamentais do Estado ou, numa visão menos liberal, para assegurar uma intervenção mais alargada na economia transacional.

É neste contexto que se pode interrogar, em primeira instância, o sucesso do IMI, isto é, se tem cumprido com esta função de arrecadar recursos para o Estado e, neste caso particular, recursos dirigidos ao financiamento das autarquias locais, titulares desta receita. Secundariamente, a utilização dos instrumentos à disposição para modelar a receita ou, por antinomia, a despesa para os contribuintes pode permitir orientar os comportamentos de investidores e consumidores, nomeadamente através da fixação das taxas dentro dos limites máximo e mínimo previstos pela lei e de isenções fundadas em objectivos extrafiscais de índole diversa (v.g. a reabilitação urbana, a habitação permanente, o apoio a famílias carenciadas, estímulos de investimento, etc.).

O IMI surgiu como um sucedâneo da Contribuição Autárquica nascida na reforma fiscal de 1988. Resultou da integração e aprofundamento dos estudos preparatórios elaborados na segunda metade da década de 90, com destaque para os dirigidos pelo prof. Sidónio Pardal e pelo Dr. Henrique Medina Carreira, missão que foi levada a cabo pela Estrutura de Coordenação da Reforma Fiscal (ECORFI), nomeada pelo ministro das Finanças Pina Moura no início de 2000. Não obstante o anteprojecto de o Código do IMI ter sido concluído e entregue ao ministro das Finanças Guilherme d’Oliveira Martins em junho de 2001, só viria a ser aprovado e publicado, ainda que na redacção praticamente intocada do anteprojecto, em 2003, pela mão da ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite.

Para fornecer uma pálida ideia do que representou o IMI para as finanças autárquicas e para os bolsos dos contribuintes elaborámos o quadro infra, onde procuramos retractar alguns dos principais indicadores que demonstram a importância do imposto e a evolução em face da sua matriz inicial.

Certamente que os guardiões das estatísticas nacionais, incluindo administração tributária, estarão melhor posicionados para retirar conclusões destes e de outros números para poder definir políticas legislativas adequadas que atendam aos comandos constitucionais, que desde logo determinam que imposto sobre o património deve contribuir para a igualdade entre os cidadãos e ao proporcional equilíbrio entre o esforço exigido aos contribuintes e as necessidades de financiamento das autarquias.

Ainda assim, empiricamente sempre é possível retirar conclusões óbvias dos dados abaixo e que podem responder a algumas das interrogações que muito acertadamente se fizeram na edição de 25 de fevereiro do Expresso.

Ainda que não estivesse no espírito dos reformadores fiscais de 2000 que o valor patrimonial tributário dos prédios reflectisse directamente o valor de mercado, é verdade que se procurou então, através dos diversos modelos matemáticos e de amostragem que se elaboraram utilizando os dados então disponíveis na administração tributária e no sistema nacional de estatística, que o valor patrimonial tributário se situasse num valor aproximado de 80% do valor de mercado. Assim se procurava prevenir situações de sobreavaliação, naturalmente nefastas para os contribuintes, com incidência também no sistema de tributação da transmissão da propriedade dos imóveis e para além dos objectivos do legislador.

As ferramentas de modelação do valor patrimonial tributário e, a partir dele, da receita do imposto são variadíssimas e traduziram-se essencialmente numa nova metodologia de avaliação dos imóveis, com objectivos, nomeadamente, de eliminação da subjetividade e permeabilidade dos modelos anteriores, previsibilidade para os contribuintes, adaptação evolutiva à dinâmica do mercado de cada zona.

Tais ferramentas traduziram-se numa matriz de zonamento do país e numa fórmula complexa de determinação do valor dos prédios, que, em geral, não tem sido objeto de contestação nos quase 20 anos de vigência do imposto, salvaguardados desvios circunstanciais que o legislador e a administração fiscal têm vindo a ajustar e que não afetam no essencial aquela conclusão.

Não obstante as ferramentas colocadas à disposição dos Governos e da administração tributária, a mera visualização do quadro abaixo de monstra com muita clareza o desvio entre o valor médio do metro quadrado de construção que forma o valor base dos prédios que é utilizado nas avaliações, que cresceu cerca de 7% desde 2003 até 2022, e o crescimento do índice do preço das habitações, que só nos últimos 10 anos progrediu quase 43% (preço da habitação com base no Eurostat). Este fosso poderia ser compensado pelo zonamento, que define os múltiplos a aplicar ao valor-base dos prédios consoante a localização destes. Porém, nem esses múltiplos permitem a aproximação ao valor de mercado, nem refletem hoje a realidade do diferencial de valores entre as várias zonas do território, e principalmente as urbanas.

A distorção resultante da falta de atualização das variáveis que definem a base tributável do IMI potencia desigualdades que afrontam o princípio constitucional que preside à confecção dos impostos sobre o património e prejudicam a perceção pública sobre a legitimidade do imposto. Urge, por isso, ajustando os diferentes marcadores que regulam o valor patrimonial tributário, assegurar os objectivos deste imposto e manter a sua eficácia, aceitação geral e importância que notoriamente adquiriu no sistema fiscal nacional e no financiamento autárquico ao longo dos seus quase 20 anos de sucesso.

Fernando Castro Silva – Advogado, in Expresso (25-03-2022)

Nova lei dos condomínios: isto é o que vai mudar a 10 de abril

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Assembleias e administradores têm novas regras. E passa a ser preciso uma declaração do condomínio na hora de vender a casa.

 

vida dos condomínios está prestes a mudar. A partir do próximo dia 10 de abril de 2022 entra em vigor a nova lei n.º 8/2022, de 10 de janeiro, que revê o regime da propriedade horizontal. E são várias as novidades que traz: os administradores do condomínio ganham novos poderes, as assembleias de condomínio têm novas regras e no momento de vender a casa passa a ser obrigatório apresentar uma declaração com os encargos e eventuais dívidas do condomínio. Neste artigo preparado pelo idealista/news, explicamos de forma simples exatamente o que vai mudar em breve na gestão dos condomínios em Portugal.

Vender a casa só com a declaração de encargos do condomínio

Se pretenderes vender a tua casa no curto prazo deverás pedir ao administrador do condomínio a emissão de uma declaração escrita o montante de todos os encargos de condomínio em vigor relativamente à tua fração, bem como eventuais dívidas ao condomínio.

Portanto, a declaração de encargos do condomínio deverá referir:

  • a natureza da fração;
  • os montantes dos encargos e os respetivos prazos de pagamento;
  • eventuais dívidas ao condomínio (natureza, montantes, datas de constituição e vencimento).

Note-se ainda que este documento deve ser emitido pelo administrador do condomínio no prazo máximo de dez dias (seguidos) a partir do momento em que é pedido pelo condómino. E trata-se mesmo de um documento que é obrigatório apresentar na hora de realizar a venda da casa – salvo se o comprador declare expressamente que prescinde do documento.

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Despesas de conservação das partes comuns

A nova lei n.º 8/2022, de 10 de janeiro, veio ainda clarificar quem é o responsável por pagar as despesas necessárias à conservação e fruição das partes comuns do condomínio, assim como as contas relativas ao pagamento de serviços de interesse comum. Portanto, estas despesas são responsabilidade dos condóminos proprietários no momento das deliberações, salvo disposição em contrário. As despesas também deverão ser pagas em conformidade com o valor das frações de cada condómino.

“Isto significa, por exemplo, que o condómino não é responsável pelo pagamento de obras em partes comuns caso não fosse proprietário da fração à data da mencionada deliberação”, esclarece a Deco Proteste.

Convocação de assembleias de condóminos poderá ser feita por email

A partir do dia 10 de abril, há que prestar mais atenção à caxa de entrada do email. Isto porque as convocatórias para as assembleias de condóminos vão poder ser feitas por correio eletrónico.

Para passares a receber as convocatórias desta forma, terás de manifestar a tua vontade numa assembleia de condomínio e indicar o teu email (esta informação deverá ficar redigida na ata).

Note-se que, antes, as convocatórias eram feitas por carta registada (enviada 10 dias antes) ou mediante com a entrega em mãos de um recibo de receção que deveria ser assinado pelo condómino.

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Reuniões de condomínio online

As reuniões de condomínio podem começar a realizar-se virtualmente. As alterações ao regime da propriedade horizontal preveem ainda que a administração pode optar por realizar as assembleias de condomínio por videoconferência ou deve fazê-lo sempre que essa opção seja pedida pela maioria dos condóminos. No caso de haver um condómino que não tenha condições de participar na assembleia online, a administração deverá ser informada para assegurar os meios necessários.

E como fica a assinatura da ata da reunião? Passa também a poder ser feita por assinatura eletrónica ou por assinatura manuscrita, refere a Deco Proteste no mesmo artigo.

Atas das assembleias de condomínio obrigatórias

Com as recentes alterações a lei passou a prever que deverão ser obrigatoriamente redigidas atas das assembleias de condómino. E ainda que estas deverão conter um resumo com os pontos essenciais abordados na reunião e indicar a data, local, condóminos presentes e ausentes e as decisões e deliberações tomadas. Por fim deve ser assinada por todos os presentes.

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Administradores de condomínio passam a ter mais responsabilidades

A gestão das partes comuns do edifício compete tanto ao administrador do condomínio como à assembleia dos condóminos. E esta nova lei prevê também novas funções para

administrador do condomínio, como:

Verificar a existência do fundo comum de reserva;

Exigir dos condóminos a sua quota parte nas despesas aprovadas, incluindo os juros legais devidos e as sanções pecuniárias fixadas pelo regulamento do condomínio ou por deliberação da assembleia;

Executar as deliberações da assembleia (que não tenham sido impugnadas) no prazo máximo de 15 dias úteis, ou no prazo fixado para o efeito (salvo nos casos de impossibilidade devidamente fundamentada);

Informar, pelo menos a cada seis meses (por escrito ou correio eletrónico), os condóminos sobre o desenvolvimento de qualquer processo judicial, processo arbitral, procedimento de injunção, procedimento contraordenacional ou procedimento administrativo (exceto no caso de processos sujeitos a segredo de justiça, por exemplo);

Emitir no prazo máximo de dez dias declaração dos encargos e dívidas do condómino, sempre que tal seja solicitado pelo mesmo;

Intervir em todas as situações de urgência, convocando de imediato assembleia extraordinária de condóminos;

Apresentar pelo menos três orçamentos de diferentes proveniências para a execução de obras de conservação extraordinária ou que constituam inovação a realizar no edifício ou no conjunto de edifícios sempre que estiver em causa deliberação da assembleia de condóminos.

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Estas novas funções do gestor de condomínio somam-se às já existentes, que passam por exemplo por convocar a assembleia dos condóminos, elaborar o orçamento das receitas e despesas relativas a cada ano cobrar as receitas e efetuar o pagamento das despesas comuns.

Se o administrador do condomínio não cumprir as suas funções, pode ser civilmente responsável, sem prejuízo de eventual responsabilidade criminal (desde que aplicável).

Fonte: Idealista, 1 Abril 2022