Foi na década de 40 do século XX que o campismo organizado deu os primeiros passos na Figueira da Foz.
Foi exatamente nessa época que o Sporting Clube Figueirense (SCF) implementou o campismo, com muitos sportinguistas a iniciarem a sua prática em 1941.
Mas só em 1942 esta atividade teria uma “secção” autónoma no SCF, e já com um número apreciável de praticantes.
Em 1943 a direção do SCF nomeia os primeiros dirigentes da seção de campismo: Jaime Cardoso, Ângelo Gil (da Casa Rádio) e Jorge Cruz.
No Ginásio Figueirense o campismo começou mais tarde e apenas teve alguma expressão na década de 50 e no início dos anos 60, tendo-se filiado na Federação Portuguesa de Campismo em 1952.
Estes dois clubes figueirenses organizaram conjuntamente, na Figueira da Foz, o Acampamento Beirão em 1958 e o 5º Acampamento Nacional em 1963.
O Parque de Campismo Municipal da Figueira da Foz seria inaugurado em 1964.
Os acampamentos do SCF sucediam-se, não só na Serra da Boa Viagem como também em vários locais do País, com a modalidade a ser elogiada por muitos que visitavam a Figueira.
Como reconhecimento do mérito desta modalidade no SCF, um dos acampamentos é visitado pelo Diretor Geral dos Desportos, a 13 de agosto de 1944, e a Comissão Municipal de Turismo atribui-lhe um subsídio de 25 mil escudos.
Em agosto de 1946, o SCF adquire um terreno na Serra da Boa Viagem, contando com o apoio inicial do Dr. Rui Nogueira Ramos e depois do Dr. Álvaro Malafaia, ambos presidentes do município, além de outras personalidades e entidades como o Dr. Sérgio Madureira, o Dr. Ernesto Tomé, a Direção Geral de Desportos e o Subsecretário da Educação Nacional.
No referido terreno o SCF inicia em 1950 a construção da Casa-Abrigo, com projeto de António Pires Sangalho e de Muñoz de Oliveira, este último antigo desportista do clube.
As obras tiveram o apoio da Comissão Municipal de Turismo que concedeu um novo subsídio de 3 mil escudos.
Os dirigentes da Federação de Campismo visitaram as obras e prometeram apoio e o Subsecretário da Educação Nacional concedeu também um subsídio de 10 mil escudos, com o qual se concluiu o edifício.
A Casa-Abrigo em construção e a visita que, em 19 de março de 1950, o Tenente-Coronel Sacramento Monteiro, então Diretor-Geral dos Desportos, fez ao local, acompanhado, entre outras individualidades, por Álvaro Malafaia (presidente da Câmara Municipal), Ernesto Tomé (presidente da Comissão Municipal de Turismo) e Augusto Alves da Silva, na altura presidente do SCF.
Em 1951, Raúl Martins é eleito presidente do SCF.
No dia 8 de junho de 1952, domingo, foi inaugurada, na Serra da Boa Viagem, a Casa-Abrigo do SCF, que durante muitos anos serviu os campistas.
Mas no dia anterior, sábado, as festas da inauguração tinham iniciado com a abertura do acampamento e, à noite, com o lançamento de muito fogo na presença de inúmeros convidados.
Nesse inesquecível sábado, dia 7 de junho de 1952, discursaram Manuel da Silva Torres, presidente do Clube de Campismo do Porto, Nobre Júnior, o responsável do acampamento, e Pires da Silva, presidente da Federação de Campismo.
Mais de 300 campistas, oriundos de todo o país, passaram a noite na Serra e, na madrugada do dia 8, visitaram as suas belezas, depois Buarcos e a Figueira.
Nesse dia 8, domingo, estiveram presentes nas festividades o Dr. Álvaro Malafaia, presidente da Câmara Municipal, o coronel Pereira de Almeida, comandante militar, o coronel Fausto Correia, comandante do quartel de Artilharia Pesada nº 3, o tenente-coronel Miranda de Andrade, comandante do quartel de Metralhadoras nº 2, o comandante Gomes da Trindade, capitão do porto, o tenente Soares, comandante da PSP, o Dr. Ernesto Tomé, delegado local da Direção Geral de Desportos e presidente da Comissão Municipal de Turismo, o capitão Basílio Seguro, subdelegado da Mocidade Portuguesa, o Dr. Mira Coelho, diretor da Escola Comercial e Industrial, Bernardo Rodrigues, diretor escolar do distrito, Cachulo da Trindade, diretor da Federação Portuguesa de Futebol, e muitos outros.
Estiveram igualmente representados o Clube de Campismo de Lisboa, o Núcleo Campista Unidos de Lisboa, o Estrela e o Recreativo Artístico, ambos de Lisboa, o GEAL, o Valadares, o Académico e o Clube Campista, os quatro do Porto, o Clube Campista e o Luso, ambos do Barreiro, o Ateneu e o Latitude, ambos de Coimbra, o Galitos de Aveiro, a Seção C. Naturalogia de Lisboa, a Associação Rodrigues Sampaio do Porto, o Clube de Campismo Figueirense, o Turim C. Français, o Grupo de Escuteiros da Igreja Evangélica Figueirense e o Sporting Clube Figueirense.
Proferiram discurso o Dr. Álvaro Malafaia, o Dr. Pires da Silva e o Dr. Nobre Júnior, e, no final, todos os presentes, na maioria campistas, entoaram o hino nacional.
De imediato, o presidente do município cortou a fita inaugural e, acompanhado de outras individualidades, visitou a Casa-Abrigo e o acampamento no qual se viam as mais modernas tendas de então.
Foi então servido um lanche na Casa-Abrigo, no qual discursaram alguns campistas, o Dr. Álvaro Malafaia, presidente do município, Aníbal de Matos, em representação dos jornalistas presentes, e os professores Rui Martins e António Mendes do Amaral, em representação do Sporting.
Os campistas não paravam de chegar à Serra da Boa Viagem e o seu número total ultrapassou as quatro centenas.
Pelas 19 horas e trinta minutos, o Dr. Fernandes Martins (filho), professor na Universidade de Coimbra, proferiu uma brilhante conferência sobre a intervenção do Homem na paisagem e sobre a origem e a evolução da Figueira ao longo dos séculos.
De seguida, o Dr. Álvaro Malafaia agradeceu a extraordinária conferência do Dr. Fernandes Martins, tenho sublinhado ter sido colega e amigo de Universidade do pai do conferencista.
Os campistas, entusiasmados, ficaram até ao dia 12, e o feito histórico do Sporting Figueirense ficou perpetuado num Boletim Comemorativo, uma revista de 32 páginas impressa no Cruz & Cardoso, na qual colaboraram o artista José Penicheiro Júnior e o fotógrafo Afonso Cruz, podendo ler-se na mesma:
“Mercê de preciosos subsídios das entidades oficiais, dos donativos valiosos de bastantes figueirenses simpatizantes da modalidade e da dedicação intraduzível de tantos sportinguistas, o sonho da Casa Abrigo transformou-se numa consoladora realidade”.
No jornal “Notícias da Figueira”, de 28 de junho de 1952, escrevia-se:
“A nossa terra não podia ficar indiferente a um movimento de tanta magnitude, quer no capítulo do desporto, quer no turismo, e o Sporting soube interpretar as necessidades da nossa terra, lançando ombros a uma tarefa que deu à Figueira o primeiro lugar no campismo nacional”.
Estávamos em 1952.