Seria impossível não falar do que se passa na Ucrânia, não falar do que se passa em Portugal e nos países da Europa que têm apoiado os ucranianos. E da forma como a tecnologia permitiu que, rapidamente, cidadãos se mobilizassem e fizessem corresponder disponibilidades de outros às necessidades de outros. Um cenário verdadeiro de Apps for good, uso da tecnologia, sem fins lucrativos e ao serviço da Sociedade.
Há alguns anos, em 2007, uma das minhas amigas, Madalena, tendo noção que muitas pessoas tinham “coisas” em casa de que não precisavam e outras pessoas tinham necessidades dessas “coisas” e faltava um canal de comunicação entre elas, criou um portal com o nome Sermais.org onde era possível fazer essa correspondência tão necessária. A Madalena, com a sua visão à frente no seu tempo, fez a diferença na vida de muitas pessoas: “estabelecer a ligação entre quem precisa e quem tem” era uma das frases-lema. E, na verdade, é esse o espírito de muitas plataformas que hoje estão a ajudar os milhões de refugiados ucranianos que estão a tentar sair do país.
Uma das plataformas neste momento mais conhecidas, wehelpukraine.org, usou o princípio-base do Sermais.org, escalando-o ao nível global de muitos milhões de potenciais utilizadores, envolvendo a Academia e um conjunto de parceiros tecnológicos e a boa vontade de muitos profissionais. Estratégias eficazes de comunicação e colaboração garantiram que, em poucos dias, a plataforma estivesse a funcionar e a ajudar quem precisava.
Em tecnologia, grande parte da eficácia depende do interesse das pessoas. E as pessoas ficaram de imediato despertas para esta realidade: a 1 de Março já o SAPO noticiava que: “a iniciativa [we help Ukraine] já está a unir esforços do mundo inteiro, incluindo do Canadá, dos Estados Unidos e do Reino Unido”, tinha “mais de 5.000 pedidos de ajuda e mais de 5.000 pessoas que querem ajudar”, incluindo uma mensagem do nosso Presidente da República.
Atualmente, a ajuda pode ser registada em 13 idiomas e oferecer/solicitar alojamento, transporte, documentação, assistência médica, apoio psicológico entre outros.
A tecnologia permite, todos os dias, que vejamos vídeos que, em tempo real, relatam os horrores da guerra, mas também acompanhar as caravanas de medicamentos e materiais de todo o tipo que têm sido encaminhados para as fronteiras. Permite saber quantas pessoas estão a ser ajudadas, onde fazer donativos, material em falta e registar e tornar virais algumas histórias de esperança, como a música em Kiev, a determinação de atletas ucranianos em provas, quando há poucos dias estavam em abrigos improvisados, acompanhar, já na Polónia e a salvo, a criança que cantou “Let it go…” (de Frozen) num abrigo…afinal, juntar tecnologia, solidariedade e esperança, concentrando a tecnologia ao serviço do bem…