“Algoritmizar”: função computacional ou competência humana?

O ecossistema digital age dentro dos processos de produção e tomada de decisão existentes, expandindo-se através de signos da linguagem digital para fazer emergir novas ideologias (mindset) com utilização intensiva de novas ferramentas que determinam outras competências, não só para utilização, mas sobretudo para extracção de utilidade económica, social, tecnológica, ecológica e legal.

Nos últimos trinta anos, as orientações emanadas através dos códigos de convivência e cordialidade para uma administração sustentável da sociedade, estimulam uma aproximação “humano-máquina” através de processos e métodos algorítmicos que produzem novas relações (inteligência relacional) e novas linguagens de interação no espaço físico, no ciberespaço e no metaverso.

A necessidade de ligar com volumes, velocidades e variedades crescentes de dados promove novas formas de organização que pessoas, empresas e instituições mantenham o domínio sobre as estratégias, táticas e o trabalho operacional.

Tal assim é que, no passado dia 14 de Março, a proposta do MiCA (Markets in Crypto Assets) do parlamento Europeu, reconhece e legitima as DAOs (Organizações Autónomas Descentralizadas) para emissão de Criptoativos.

A decisão do parlamento sobre um modelo “societário” (Organizações Autónomas Descentralizadas) expresso através do MiCA, pode ser entendido como uma oportunidade e uma força mobilizadora, para que Portugal entenda e atue com os instrumentos de política monetária, financeira, económica e societal através de uma plataforma de progressão digital contínua em três planos: no território, no ciberespaço e no metaverso.

As DAO são implementadas na prática através de algoritmos (complexo de contratos inteligentes), com capacidade de atuação autónoma e automática, mas onde a componente humana (apesar da descentralização) continua a imprimir direcção e desígnio, sobretudo nas fases iniciais de constituição e arranque do novo método de empreender através do modelo de Organização Autónoma Descentralizada.

Em se tratando de um conjunto de instruções para execução automática e autónoma de código informático, que agora modeliza e age como uma empresa, importa relevar que, as peças de software que compõe os contratos inteligentes estão na verdade a “algoritmizar” uma competência humana para estabelecer modos de organização inteligente, e de trabalho em conjunto de células híbridas “humano-máquina”.

Chegou a hora da Organização Coletiva da Inteligência, ligando o pensamento e funções computacionais com as experiências, competências e a sensibilidade das Humanidades Digitais.

Francisco Lavrador Pires – Engenharia, Inovação e Desenvolvimento Organizacional, in Diário As Beiras (31-03-2022)

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