Em meados do século XX, a electricidade na Figueira era cara e tinha períodos de interrupção

Corria o ano de 1878 quando entraram pela primeira vez deputados republicanos na Assembleia Portuguesa.

Neste ano, no dia 28 de Setembro e para festejar os 15 anos de idade do então príncipe D. Carlos, foi feita a primeira experiência eléctrica.

Foram acesos candeeiros na esplanada da Cidadela de Cascais!

Poucos anos depois, nos finais de 1883, a Figueira contava 143 candeeiros de iluminação pública, mas ainda a petróleo. Ficava, contudo, para a história o tempo em que o homem usava troncos resinosos, archotes, velas e azeite para ver na escuridão.

A jovem cidade gastava 1.500$000 reis nos 300 dias por ano (noites mais escuras) que os acendia. Em Dezembro desse ano, já com a Praia da Fonte ligada com o bairro novo que se ia construindo, Câmara Municipal da Figueira assina um contrato provisório de fornecimento de iluminação pública com Luís Pereira Jardim, Gonçalo Teles de Magalhães Colaço e Eduardo Guedes.

Surge também um outro contrato, mas desta vez celebrado com Francisco Borges da Cunha, do Porto, também para o mesmo fim, que foi rescindido em 1885. Neste processo e ainda noutro contrato, estão envolvidos dois nomes: Tomás Nesham Kirklam e Tomás Carlos Hersey.

O tempo foi correndo e o novo século obrigava a novos avanços.

A instalação e exploração da energia eléctrica na Figueira, há mais de um século, estiveram a cargo da Companhia Eléctrica Figueirense, S.A.R.L., tendo como gerente Manuel Harrison.

Logo no dealbar da década de 20 do século passado, a Câmara Municipal e esta empresa assinam um contrato de concessão com vista à “distribuição de energia eléctrica para a iluminação pública e particular e para força motriz aplicadas a pequenas indústrias”. Os candeeiros começaram lentamente a acender em várias zonas da Figueira.

Finalmente, em 1921, as ruas do Bairro Novo já tinham também luz eléctrica.

Acendiam também lâmpadas na Rua da República, Praça 8 de Maio, Jardim Municipal, Largo da Estação e Largo do Carvão. Na Praça Velha e na estação de comboios a luz eléctrica era uma realidade meses depois. A preocupação em dotar as oficinas dos caminhos-de-ferro e da fábrica de vidros da Fontela foi também rapidamente ultrapassada.

O cheiro desagradável no ar, fruto da queima do petróleo ia progressivamente desaparecendo…

Em 1924, as minas do cabo Mondego já possuíam uma caldeira destinada à máquina geradora de força motriz. Três anos mais tarde, o serviço de electricidade foi municipalizado, juntando-se o abastecimento de água. A situação ainda teve alguns problemas e, em meados do século XX, a electricidade na Figueira era cara e tinha períodos de interrupção.

Apenas em 1961, o Bairro do Padre Américo viu a iluminação pública ser eléctrica. Seguindo-se, progressivamente, a iluminação dos mais significativos monumentos da cidade. Seis anos antes dos serviços de fornecimento de energia eléctrica serem transferidos para a EDP (1980) é que o novo cais comercial do porto que acende a luz eléctrica.

Refira-se que a EDP foi constituída no ano de 1976 “e herdou um cenário complexo. Uma parte do país ainda estivesse às escuras”. Em 2013, a EDP é privatizada.

Em 2017, a Figueira lançou o projecto “Figueira Beach Sports City”. A iluminação da praia, até então assegurada por projectores com lâmpadas de descarga tradicionais (2000 W), modernizou-se.

Recentemente, 22 mil novas luminárias públicas foram espalhadas pela cidade e freguesias, com tecnologia “led”, mais eficientes e com menor consumo, e que representa poupança. Com uma temperatura de cor de 2800k (branco quente), possuem um sistema que permite controlar a intensidade da luz produzida e incluem diversos sensores que possibilitam saber quando uma luminária se funde, controladores de tráfego ou suporte para comunicações 5G. Quando o sol se põe a iluminação é forte e pode reduzir de intensidade durante a noite.

É o futuro e o respeito pelo ambiente!

António Jorge Lé – Memorialista, in Diário de Coimbra (09/11/2022)

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